segunda-feira, 9 de maio de 2011

Diretamente do Penty

A fachada do Penty, um boteco de esquina no bairro d'Aligre

Paris, 9 maio 2011. Escrevo estas linhas do Penty, no coração do bairro d’Aligre, em Paris. É engraçado que o Penty, um pé-sujo que reúne bobôs e moradores mais antigos, de origem mais modesta do ponto de vista aquisitivo, ofereça aos seus clientes um serviço de Wi-Fi, ao passo que o todo modernoso Café de l’Industrie, não. Estou sentado na parte interna, sorvendo uma Leffe, enquanto digito essas linhas na mesinha do canto. Só não fiz fotos porque estou sem o aparelho que copia da câmera para o computador, do contrário, este seria um post quase ao vivo. De qualquer modo, como tenho fotos do Penty e dos arredores de ontem e outros dias, aproveito para fazer um post breve, enquanto a bateria do laptop resiste.

Hoje, uma segunda-feira, dia que o mercado d’Aligre fecha, o bairro está bem calmo, sem sinais da efervescência de ontem e de sábado, quando tudo por aqui fervilhou. Mesmo assim, o Penty está relativamente cheio, com todas as mesinhas do exterior ocupadas e só o salão interno vazio (onde estou). O véu anuncia uma chuva, mas a temperatura continua em torno dos 26 graus, de modo que os parisienses aproveita o calor para ficar do lado de fora. Os bares fechados sofrem nessa época. Mesmo os mais badalados ficam vazios, com o pessoal preferindo termo-regular ao sol, nas esquinas e terrasses, desfrutando da rara luz que o calor traz.

O Penty visto do meu ponto de vista, na mesinha do canto, dentro do salão

Para mim, no entanto, a parte interna do Penty é importante, pois é onde os fregueses assíduos preferem ficar, faça frio ou calor. Com as barrigas encostadas ao balcão de madeira, eles jogam conversa fora com quem estiver gerenciando o bar. Normalmente é o Jojo, mas hoje ele não está por aqui. Seu irmão, Hervé, toca o bar, com a ajuda de Berenger, sua sobrinha ou filha, ainda não descobri.

Além disso, o Penty tem a cerveja mais barata do bairro e ainda oferece pequenos porções de batatas e cenouras calabresa, amendoins e azeitonas pretas. De graça. E o patron é um judeu tunisiano, o que serve para desconstruir o estereótipo de que os judeus são sovinas. Não conheço, entre meus queridos amigos donos de botequim no Rio, ninguém que ofereça petiscos de graça e chope abaixo da concorrência. Aliás, pensando bem, todos meus amigos judeus, e são muitos, são em geral extremamente generosos. Penso sobretudo em Tito, Mila e Marcelok.

Além disso, como não tenho um lugar tranqüilo para escrever e ler, o que tem sido um problema para minha pesquisa, descobrir que o Penty tem Wi-Fi é uma boa notícia. Aqui passo um bom tempo reunindo minhas notas e observando o bairro, e agora sei que posso já colocar na rede, in loco.

Enquanto isso, as pessoas a minha volta tratam de seus assuntos. O bar na França se presta muito aos projetos tanto quanto ao lazer. Tem gente que traz seus livros, cadernos e laptops e ficam horas, com uma xícara de café, trabalhando. Outros fazem reuniões importantes, para discutir projetos, eventos etc. Na parte interna, tem um sujeito careca e barbudo, que vem sempre com seu imenso cachorro. O animal se deitou no chão, à espera dos carinhos que os fregueses, normalmente mulheres, lhe fazem na barriga. Quase uma indecência. Ao mesmo tempo, entra uma mamãe com seu bebê num carrinho. Ela sorve seu chope (um Amstel) tranquilamente, com o bebê no colo. Enfim, tem cerca de sete ou oito pessoas aqui dentro e todas se conhecem e parecem morar nas imediações. E assim é o Penty, no cair da tarde, entrando no happy hour. Um bar família.

Berenger e Jojo, alma do Penty

Estou aproveitando essa viagem para tomar nota de alguns cafés e bistrots que me chamaram a atenção. No meu blog Pendura Essa vou fazer uma avaliação mais detalhada sobre esse bares. Me aguardem. Agora, me dêem licença que o dia foi de muita pesquisa e leitura e, agora, quero aproveitar meu happy hour, antes de me recolher. À bientôt!

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