terça-feira, 29 de março de 2011

De volta aos relatos

Saindo do Jardin Luxembourg e entrando no boulevard St-Michel

Paris, 29 março 2011. De casa nova, tive nos últimos dias dificuldades para acessar a internet e fiquei sem câmera fotográfica. Isso acabou me impossibilitando de atualizar o diário sobre minha França Fantasma, embora tenha enchido cadernetas e blocos com anotações, insights, pensamentos e desabafos. De modo que peço desculpas pelo longo texto, mas ele é um resumo dos últimos dias. Para facilitar o contato com as pessoas, comprei uma pequena câmera e instalei o skype no computador. Anotem: ipaco5.

Sinto que começo uma nova fase em Paris, agora com menos estranhamento e mais trabalho. As coisas avançam rapidamente na École. Obtive acesso às bibliotecas francesas e isso é algo que precisa ser administrado com cuidado, pois dá vontade de mergulhar nesses universos para sempre. Amanhã tenho um rendez-vous com Agnès Deboulet, da área de arquitetura da École. Vai ser nosso segundo papo e ela se mostrou muito interessada em minha pesquisa, chegando a dizer que ninguém estudou ainda o Marché d’Aligre. Ao mesmo tempo, meu trabalho de campo avança, com muitas anotações. Algumas delas compartilharei aqui.

Exposição fotográfica Femmes éternelles à travers le monde, com 80 portraits de Olivier Martel, nas grades do Jardin Luxembourg

Para começar uma indicação bibliográfica. O escritor italiano Franco La Cecla escreveu um livro, que foi traduzido para o francês com o nome de Contre L’Architecture. Aqui foi publicado pela editora Arléa (www.arlea.fr) e que é uma crítica bem sensível, do ponto de vista literário, à arquitetura comercial, à arquitetura neoliberal e à arquitetura pós-moderna, dos escritórios renomados mundialmente, como os de Renzo Piano, Frank Gehry, Rem Koolhaas e o escritório japonês de arquitetos Sanaa. Uma delícia de texto. É menos consistente do que o de Jane Jacobs (Morte e vida de grandes cidades), mas tem a mesma aura. Estou levando um de presente para Soraya, que vai começar a dar aulas no Ippur/UFRJ.

La Cecla, por sua vez, recomenda uma americana, uma menina ex-punk, chamada Rebecca Solnit, que escreveu sobre como se perder na cidade (ele cita dois livros dela: um que se tornou indispensável, segundo La Cecla, chamado Wanderlust, e o mais recente, A Field Guide Getting Lost), uma idéia que caminha pela via contrária dos guias tradicionais, sugerindo o descondicionamento do olhar do flâneur. Trata-se da experiência que a autora aprendeu quando era punk e vagava com seu grupo em busca de espaços da cidade normalmente negligenciados, mas que são potencialmente interessantes. Isso despertou sua atenção para vitalidade da cidade, independentemente dos planejadores urbanos.

Os parisiense aproveitam qualquer solzinho para ir para os parques e jardins da cidade

Acho esse tipo de reflexão uma forma de pensar a cidade mais saudável e interessante do que a velha melancolia da perda do patrimônio simbólico e físico, dos bares que fecharam e coisas assim, e que normalmente está por trás das iniciativas de guias sentimentais e fetichistas, nos lançando para o passado não mais alcançável. A cidade é, sobretudo, hoje.

Ruben usa uma expressão bem sugestiva em espanhol para se referir a um tipo de flanagem por certas imediações e cercanias: “Vuelta de perro” (volta de cachorro, aquela em que se leva o animal para fazer suas necessidades fisiológicas). A metáfora é pertinente. Outro dia vi um olhar de súplica, quase canino, quando ele sugeriu à Marta: “una vuelta de perro?”, após um dia inteiro de trabalho encerrado num estúdio de televisão. Ao sair do apartamento, demonstrava a mesma alegria dos cachorros, que saem puxando os donos pela coleira. Para o flâneur é assim. Nem que seja uma volta no quarteirão, é preciso caminhar pela cidade, olhos e coração abertos.

Na sexta-feira passada, eu e ele fizemos isso. Demos uma longa vuelta de perro por vários cartiers de Paris. Jardins, galerias de arte, passagens, becos, cafés, sorveterias, livrarias, a Pont des Arts, com os cadeados no alambrado, uma espécie de simpatia que os casais adotam para garantir que seus romances não estejam fadados ao infortúnio. Foi um dia de sol e calor e nós suamos a camisa. No auge, uns 20 graus. Ótimo para caminhar e nossa vuelta de perro durou umas quatro horas e tantas. Caminhamos por metade de Paris. Lamentei profundamente não estar com a câmera fotográfica. Vi coisas que mereciam um registro (mas ontem voltei à Pont des Arts e fiz as fotos dos cadeados).

Uma banca de jornal na St-Michel, anunciando concerto de Joan Baez (em outra, era o Cat Stevens), estou me sentindo nos anos 60

À noite tomamos uma cerveja num café que até então só conhecia de ouvir falar: La folie em Tête, perto da Place d’Italie, na famosa rue de Buttes aux Cailles, que também dá nome a essa região bem legal. Uma espécie de reduto boêmio cheio de bistrots, brasseries e restaurantes. Há outros excelentes bistrots como, por exemplo, Merle Moqueur e o anarquista, Les Temps des Cerises. Todos sensacionais e do lado da minha nova moradia. Ai meu fígado! Depois, com Marta, fomos a um restaurante cantonês no bairro chinês, juste à côté.

No sábado, me encontrei com Agnès Deboulet, pesquisadora e arquiteta da École, e Maéva Boudoin, que seguiu no dia seguinte para o Brasil para uma temporada de pós, em que vai estudar a relação dos escritórios de arquitetura com as agências públicas na urbanização de favelas em meio ao processo de revitalização do Rio para as Olimpíadas e Copa do Mundo. Enfim, pano pra manga. Conversamos muito. Gosto de Agnès. Ela é muito antenada e incisiva em suas opiniões e possui um engajamento refinado em defesa da cidade. Vamos nos encontrar novamente amnhã, na École, para uma conversa mais tranqüila e para pegar algumas indicações bibliográficas para minha pesquisa. Quanto a Maéva, que me pareceu muito legal, indiquei logo que procure Soraya.

No domingo, passei a manhã e início da tarde fazendo trabalho de campo no Marché d’Aligre fazendo anotações de campo. Sentei-me numa boulangerie (Boulanger Confisseur) que, aos domingos, põe mesinhas na calçada, e observei o vaivém das pessoas, entre moradores tradicionais e bobôs. Estava ao lado do café Le Charolais, onde um grupo de senhores na faixa dos 60 e poucos, fumavam cigarrilhas e falavam o que me pareceu ser turco. Eles também bebiam algo transparente num copinho pequeno, como os que servimos cachaça. Todo hora se juntava ao grupo algum outro vizinho. Alguns tomavam chá de hortelã. Entre os “turcos” não havia mulher. Já a maioria dos bobôs, extremamente elegantes e sempre com forte presença feminina, bebia cerveja. Alguns, no Charolais, bebiam vinho branco, acompanhando as ostras frescas, que são uma das suas especialidades. Mas é o sol aparecer para o pessoal pedir cerveja nos bistrots.

Além dessa espécie de turco, também ouvi árabe, espanhol, inglês e chinês. E isso é uma das marcas, em minha opinião, do cosmopolitismo de uma cidade. Não estou falando do turista, mas sim do morador imigrante, já integrado, já francês no que se refere às formalidades cívicas, mas que, quando estão entre compatriotas ou querem falar algo mais íntimo ou relacionado às suas origens recorrem ao idioma original. Em Paris, esse fenômeno é constante. Outro dia, presenciei uma discussão entre o que me pareceu ser pai e filha. Chineses de origem han, falavam mandarim e o sujeito gritava e gesticulava, lembrando a coreografia dos filmes chineses. Gestos marciais para enfatizar a frase, já embutida de todas as ênfases.

Os cadeados no alambrado da Pont des Arts são uma simpatia para garantir o sucesso das relações amorosas. A moda. A prefeitura vinha à noite e tirava os cadeados, mas no dia seguinte havia mais. Eles acabaram deixando e virou um atrativo

À noite fui com Ruben e Marta ver Wast Land, o sensacional documentário da britânica Lucy Walker sobre o trabalho de Vik Muniz. Imperdível. É o tipo de documentário que começou com um projeto e a realidade acabou por modificar sua narrativa, dando muito mais emoção e improviso. A vida das pessoas no lixão de Gramacho e o processo de realização da obra de Vik e como isso, no fim, afeta a vida desses catadores de lixo é de fazer chorar copiosamente. Foi um ótimo fechamento para o domingo.

Ontem, fui à École obter os acessos às bibliotecas e, depois do curso na Alliance, caminhei pelo Jardin Luxembourg, desci o boulevard Saint-Michel e depois a orla do Sena. Voltei à Pont des Arts para fazer as fotos que ilustram este post e depois segui para casa de Marta, onde jantei. Hoje, faço esse relato, com a intenção de atualizar o diário de campo. É isso, a bientôt!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Diretamente do Starbucks Bastille

Paris, 24 março 2011. Na nova residência onde me escondo em Paris, ainda não tenho acesso à internet, o que torna um pouco mais complicado atualizar o diário de campo. Estou fazendo isso de um Starbucks na Bastille, onde comprei por 2 euros um crédito de duas horas e estou usando o laptop na bateria. Também ainda não tive oportunidade de fotografar a nova casa (não vale muito a pena) para mostrar pelo menos o quarto. Ainda estou me adaptando às mudanças.

Mas estou trabalhando bem na pesquisa. Ontem estive pela primeira vez no café associativo da Commune Libre d'Aligre, conhecendo as pessoas. Todos muito simpáticos. Fiquei de voltar e me integrar às atividades lá. Também aproveitei para observar melhor o comércio em torno do bairro e sua relação com os moradores. É muito interessante e acho que possibilitará fazer bons contrastes com o caso de Botafogo. Preciso falar urgentemente com o Leo Feijó!

Bem, mais detalhes depois. Aproveito para reproduzir abaixo o texto que coloquei hoje no meu blog, digamos, oficial: o Pendura Essa (link no pé dessa página). A bientôt!

A retórica das ruas


Quando se olha os bairros e as ruas com olhos de estrangeiro, salta aos olhos a sua narrativa. Não me refiro à retórica de arquitetos e urbanistas; do Poder público, das agências turísticas e outras instituições da cidade; mas aos sonhos das pessoas, que emergem no uso e compartilhamento cotidiano dos espaços; na intimidade que se desenrola no lar e na vizinhança. A rua nos conta um dedo prosa ao dobrarmos a esquina, ao repararmos na forma como se distribuem, por exemplo, os equipamentos públicos, dos hidrantes às praças.

O comércio de rua é sempre um sinal eloqüente de vitalidade. Quanto maior for a sua presença, mais visível será a vida ali: A forma e o display das mercadorias, os gritos dos comerciantes, fazendo o pregão de suas mercadorias, o entre e sai de fregueses e clientes, o olhar compartilhado e informal sobre a rua, vigiando sua normalidade trivial. As cores, os aromas, os desenhos dos prédios: haverá harmonia ou será um discurso caótico e confuso?

Caminhando por Paris nesta temporada, me dou conta de que estou lendo um novo livro. Um livro em outro idioma, que vou aprendendo à medida que viro suas páginas. Aos poucos, o enredo vai fazendo sentido. Percebo sua vitalidade, mas também as pressões por mudanças que se impõem sobre ela e que são comuns a todas as grandes metrópoles do mundo, que competem entre si pelo prestígio, pelos turistas e por altos negócios.

Há um discurso urbanístico comum, uma retórica da modernização das cidades, da racionalização dos espaços. Um discurso imobiliário que se adéqua muito bem à globalização (já ouvi a expressão urbanismo neoliberal). Desde Barcelona, por exemplo, todas as grandes metrópoles, inclusive o Rio, querem renovar seus portos, transformando os velhos galpões em museus de escritórios de arquitetura renomados e áreas de lazer e de condomínios de luxo.



Enquanto Paris protege seu patrimônio cultural e urbanístico, cidades como o Rio botam tudo abaixo em nome da modernidade. É compreensível, pois as pressões são vigorosas. Mesmo na capital francesa são perceptíveis mudanças que tornaram bairros irreconhecíveis. E há quem sustente esses movimentos com fervor quase religioso, sobretudo arquitetos. Ontem li um artigo no New York Times em que o autor, um arquiteto, recuperava a figura de Robert Moses, como um grande empreendedor e visionário de Manhattan. Segundo ele, Moses tem sido injustiçado ao ser lembrado como o homem que destruiu boa parte de Nova York. Segundo o autor, esses que o atacam são pseudos defensores do patrimônio histórico e da memória urbanística da cidade. Ora, vá perguntar aos moradores que foram removidos, expulsos o que eles pensam de Moses.



Enfim, o problema é exatamente esse. A população diretamente afetada nunca tem voz nas decisões dessa natureza. Muitos arquitetos são extremamente arrogantes quando o assunto é a cidade, como se só eles tivessem autoridade para falar sobre o quê construir e como. Na maioria das vezes, infelizmente, eles mal lêem a narrativa das esquinas, os enredos da intimidade à qual se tem acesso pelas escadas dos prédios antigo, pelos halls e pátios internos. Aos labirintos que as ruas de certos bairros formam, lembrando as cidades medievais e por aí vai.

quarta-feira, 23 de março de 2011

França kriptonita


Paris, 23 março 2011. Ontem comecei uma nova fase na França. Me mudei para um quarto, alugado na casa de uma cantora brasileira que vive aqui há muitos anos. É num prédio em frente à Place d’Italie, muito bem localizado. O quarto é legal, com mesa de trabalho, armário e uma cama grande e confortável. Mas o banheiro e a cozinha são compartilhados com ela, o que é meio chato em termos de privacidade. Algumas pessoas me disseram que o preço está alto, considerando que não é um espaço independente: 450 euros por mês. Mas consegui uma opção 100 euros mais barata numa banlieue, há dez minutos do centro de Paris. Acho que vou me mudar para lá no mês que vem.

Continuo usando o apartamento de Marta e Ruben como base para minha pesquisa, já que está situado à côté du Marché d’Aligre. A relação aqui também é mais calorosa e me sinto mais à vontade para fazer as coisas. Mas o quarto é uma boa para trabalhar. Pois fecho a porta e mergulho nas leituras. Uma coisa que me incomoda é que a mulher fuma muito e o cheiro do cigarro atravessa a porta e se instala nas minhas pobres narinas. Ontem, cheguei mesmo a abrir a janela, apesar do frio. Não tenho frescura com cigarro, mas minha senhoria fuma um atrás do outro. Um pouco além da conta. Enfim, coisas da vida cotidiana, às quais nos adaptamos. Faz parte inclusive da experiência como um todo.



Antes de voltar para o Brasil quero me organizar para ir a Londres e a Madri visitar amigos que estão vivendo por lá. Passar um fim de semana com eles. Isso também ajudaria a dar novas perspectivas às coisas que estou vivendo na capital francesa. Sempre gostei muito da França e particularmente Paris. Todas as minhas visitas anteriores se concentraram neste país, cuja alma começo a desvendar. Não gosto dessas viagens de 10 dias num canto, 10 dias em outro. Prefiro mergulhar nos lugares em que estou. Mas agora é hora de viajar mais.

Enquanto isso, a nuvem de radiação da usina de Fukushima chegou hoje à França. E os franceses nem aí. Nem os cientistas. Segundo um instituto conceituado daqui, já deu para a radiação se diluir e eles estimam a massa em 10% do que a que foi gerada pelo acidente de Tchernobyl. No rádio chegaram a falar que é uma radiação inferior à dos telefones celulares... que medo! Vivemos num mundo cryptonita total.

terça-feira, 22 de março de 2011

De mudança


Paris, 22 março 2011. Hoje me mudo para une chambre no apartamento de uma cantora brasileira que vive em Paris há três séculos. A localização é ótima, em frente à Place d’Italie. Mas não há muita privacidade, pois o banheiro e a cozinha são compartilhados. Alguns amigos aqui consideraram o preço alto para um quarto: 450 euros por mês. Sobretudo porque fica num HLM, um condomínio social do tipo BNH, com aluguel social. Consegui para abril um studio num banlieue a 10 minutos de Paris. Cem euros mais barato, e totalmente independente. Enfim, vamos ver.

Como a casa de Marta e Ruben fica no mesmo bairro do Marché d’Aligre, continuarei usando o apartamento deles como base para meu trabalho de campo. Posso vir aqui durante o dia e trabalhar, estudar e escrever. Ontem, comprei uma mochila nova (a velha estava em petição de miséria a ponto de todo mundo notar), com um compartimento para o laptop, de modo que ficará mais fácil circular para lá e para cá.

Sinto que agora, depois de um mês de ambientação, começo a trabalhar de forma mais focada e sistemática no projeto de pós-doc. Hoje, por exemplo, vou fotografar um jardim coletivo que a Commune Libre d’Aligre fez em um beco abandonado. É um trabalho coletivo compartilhado com os moradores do bairro. A Commue é cheia de atividades com o objetivo de integrar as pessoas que vivem aqui. Há cursos de literatura, cinema comunitário e até corte e costura. O café solidário também é uma atividade coletiva, em que as pessoas cozinham suas especialidades para os presentes.



Também me matriculei por mais duas semanas no curso da Alliance. No fim das contas está sendo útil apesar do preço. A professora é ótima. Uma jovem parisiense típica, que adora vinhos e queijos e é bem antenada quanto às coisas da cidade. Ela conhece bem o Marché d’Aligre, onde vai com o marido todos os domingos. Mas ainda não nos esbarramos por lá. Seria legal encontrá-la por lá.

Ontem, comi num bistrot perto de Saint-Michel, depois da aula d’Alliance. Minha primeira decepção, o que reforça a noção de que as áreas turísticas de Paris (que são praticamente toda a cidade) não valem a pena. Pedi um meno de 18 euros, com mussarela de búfala, tomate e manjericão de entrada. Mas o prato principal, um filé ao molho de camembert com fritas, servido numa prancha de madeira, demorou muito e veio frio. Em casa, onde estou sozinho esses dias, fiz um peito de frango ao curry com ervilhas e uma baguette para aproveitar o molho. Bem melhor.

Bem, é isso. Coloco mais algumas fotos do Marché d’Aligre e seu entorno. A bientôt!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Manduka em Paris

Manduka e Enrica no fim dos anos 70, após a anistia

Paris, 21 março 2011. Peço licença para abrir um parêntesis neste diário de campo e mencionar que, no último dia 19, ou seja há três dias, comemorou-se o centenário de nascimento de Assis Valente. Pois bem, Manduka tem uma linda canção, um samba lento e lírico, em homenagem ao compositor. Endividado e sem conseguir dinheiro no escritório de direitos autorais, o autor de Brasil Pandeiro comunicou aos amigos sua decisão de se matar e, num banco de praça, na Glória, tomou formicida.

Manduka, no exílio em Paris, gravou um disco com Naná Vasconcelos, em 1975, em que faz uma série de homenagens a personagens do Rio de Janeiro de sua infância e adolescência. Estão lá canções como Jandira, a linda morena que afoga a solidão no mar, e o malandro Calypso, o rei das infernadas. E esse samba para Valente, que é de fato comovente. Deixo abaixo o link da canção no YouTube para quem quiser curtir:

http://www.youtube.com/watch?v=rmmIs3P2aQo

domingo, 20 de março de 2011

A "leblonização" do Marché d'Aligre

O Penty, boteco de esquina em frente à praça do mercado d'Aligre. Começa a se bobotizar...

Paris, 20 março 2011. Ontem foi um dia feio, de chuva e frio, só saí para dar uma caminhada e comprar suprimentos: uma garrafa de tinto e queijos variados (dois cremosos de cabra e dois mais durinhos de vaca, de regiões diferentes) e um franguinho para fazer num molho apimentando, usando as épiceries da Marta. Avancei nas leituras. Mas ainda há muito texto pela frente, tudo em francês. Também concluí a reportagem sobre o canibalismo e editar as fotos. Enviei tudo para o Globo, espero agora um retorno.

Hoje, o domingo abriu lindo neste domingo, com o sol dando as caras na cidade e a temperatura quente o suficiente para caminhar com o manteau aberto, sem cachicol e gorro. Apenas um friozinho parecido com o da região Serrana do Rio. Fui então ao terrain de pesquisa fazer um pouco etnografia. Mapeei o mercado d’Aligre e seu entorno. É impressionante como os cafés, boulangeries e lojas se sofisticaram para atender o novo morador com mais recursos financeiros. O comércio rapidamente se adpata, sobretudo quando é para puxar os preços para cima. Parece tanto com o que aconteceu com o Leblon nos últimos 30 anos e começa a acontecer em Botafogo. Mas ainda há uns dois pés-sujos no entorno da praça d’Aligre.

Meu bloco de campo, com o mapa do mercado d'Aligre e arredores, com indicação do comércio local

O botequim que conheci em 1995, como um reduto magrebino, de vizinhança, hoje só tem alta classe média. Pelo menos o bar não mudou muito. Continua vendendo sua cerveja barata (abaixo de 2 euros, uma raridade em Paris) e a generosidade de servir sempre alguma coisinha de tira-gosto, como batatas calabresas. E daqui, quando for época, os mexilhões ao limão, com vinho verde, especialidade do boteco, que se chama Penty. Nome besta, mas é pé-sujo de verdade.

Le Baron Rouge, sucesso total, é uma espécie de Jobi e Bracarense. Atrai uma multidão, que não consegue entrar e acaba sendo atendida na calçada. O menu é excelente, com boa carta de vinho e cerveja

Para poder trabalhar com todos esses conceitos, que são relativamente próximos, embora não signifiquem a mesma coisa, resolvi escrever um artigo a quatro mãos com Soraya, relacionando dandy, gentrifier, yuppie, bobô e playboy. Buscando as raízes históricas e as apropriações antropológicas desses termos hoje em dia. E é isso que vou fazer agora. A Bientôt!

sábado, 19 de março de 2011

Ulf Hannerz em Nanterre

Além da exposição sobre canibalismo, a Maison Rouge também está apresentando o trabalho de Chiharu Shiota, chamado Home of Memory

Paris, 19 março 2011. Ontem foi uma sexta-feira gelada, com a temperatura em torno dos 6 graus, com chuva e vento. Voltou a esfriar em Paris, depois de uma semana de tempo agradável e sol. Todos aqui me disseram que isso é normal. Na primavera, a temperatura oscila muito em toda a França. Mesmo assim, a sexta-feira foi extremamente proveitosa. De manhã voltei pela terceira vez à Maison Rouge, dessa vez para fotografar algumas peças da exposição sobre canibalismo para enviar para o Globo. Na recepção já havia um crachá para mim, fruto da negociação com a assessora de imprensa da Maison. Pude trabalhar à vontade, embora a luz fosse um problema para algumas das peças.

Terminei essa tarefa lá por 13h30, portanto, hora do almoço. Circulei por ali, nas imediações da Gare de Lyon, que faz conexões com os aeroportos, as linhas RER e é uma área de viajantes, cheia de turistas e estrangeiros que se preparam para embarcar ou acabaram de chegar e, portanto, cheia de brasseries e cafés, mas nenhum verdadeiramente interessante e quase todos muito caros. Procurei, procurei e acabei achando um relativamente pequeno (em comparação aos vizinhos) restaurante, chamado Café de Lyon. Nada especial, mas tinha uma cara mais aconchegante e certa alma.

Pedi de entrada uma salada com patê de pato e, como prato principal, um steak tartar com fritas, ambos bastante saborosos. Meia garrafa de um tinto rascante e, de sobremesa, creme brulé, porque era sexta-feira e ainda tinha muita atividade pela frente. Foi caro. Tudo deu perto de 40 euros. Mas foi uma extravagância.

E também essa outra peça, de Stéphane Thidet, La vie sauvage

Estômago forrado, fui à Gare de Lyon para pegar o RER e me mandar para Nanterre, na Universidade de Paris X, onde nada mais nada menos o antropólogo Ulf Hannerz (para quem não sabe, ele escreveu um clássico da antropologia urbana: Explorando a cidade, entre outras obras importantes) ia proferir uma palestra sobre a “complexidade cultural”, tema de um livro seu com mais de dez anos e que, só agora, foi traduzido para o francês.

O RER é um trem que faz ligação com as banlieues de Paris. Agora, a compra de ticket é toda automática, feita em terminais eletrônicos. Outra coisa que está se tornando automática são os trens do metrô. Estão eliminando o ofício de motorneiro. Já há linhas que são dirigidas totalmente por robôs. O pessoal diz que é uma forma de evitar transtorno nas greves, que são constantes por aqui. Seja como for, o desemprego cresce e tudo se automatiza. É a modernidade, dizem.

O anfiteatro de Nanterre, onde rolou a palestra, com, a partir da esquerda, Pedro García Sanchez, Alain Battegay, Ulf Hannerz, o tradutor, e Anne Raulin

A Universidade de Nanterre, por sua vez, é bem simpática. O seu campus me lembrou o da UFF, no Gragoatá, e também o campus da Escuela de Cine y TV de San Antonio de los Baños, em Cuba. Um amplo campo aberto, com blocos de edifícios onde funcionam as variadas disciplinas. Acabei chegando cedo e consegui um bom lugar no anfiteatro do bloco B. À mesa, além do Hannerz, estavam Pedro García Sanchez, que introduziu o convidado em nome do Departamento de Sociologia; Anne Raulin, colega do Departamento; e Alain Battegay, sociólogo do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e diretor da coleção editorial Cultures Publiques et Mondes Urbaines, uma figura (também uma autoridade no campo das ciências sociais).

Mas a estrela da noite mesmo foi o tradutor, pois Hannerz não fala francês e sua palestra foi toda em inglês. O sujeito era de fato um virtuoso. Não só ele não perdia nada (e olha que essas palestras são cheias de conceitos sutis), como falava numa velocidade impressionante, até mesmo para os franceses. Mas fiquei feliz porque consegui compreender bem as coisas (claro, depois de ouvido em inglês primeiro...). Fiquei impressionado também com a estrutura do anfiteatro. Cada assento tem um microfone para que o público possa participar do debate. E assim foi. Casa lotada, estudantes e outros professores, o evento durou umas três horas. Estava exausto no fim.

No fim, fomos todos de RER de volta à Paris, para um pequeno bistrot, perto da estação Stalingrad, no 19eme. Estávamos lá, eu, Hannerz, Battegay, Raulin e Pedro, além da antropóloga Roselyne de Villanova e mais dois doutorandos de Nanterre. O bistrot, escolhido por Pedro, era extremamente charmoso e mesmo caloroso, com o proprietário circulando entre as mesas, simpático, explicando os menus. Estava lotado, com as mesas bem apertadas, vários casacos pendurados, aquela luz amarelada típica dos bistrots parisienses, com quadros de personalidades nas paredes.

No café, a partir da esquerda, Pedro, Hannerz, Battegay e Raulin

Extrapolei. Comi uma entrada de arenque (deu saudade dos rollmops da Adega Pérola) com salada, depois um filé ao ponto, com batatas coradas num molho de mostarda e, ai, ai, um creme brulé de sobremesa... Sem comentários. Foram várias garrafas de Bordeaux (2007) e muita conversa inteligente. Discuti meu campo de pesquisa em Paris e todos ficaram curiosos em relação ao tipo de contraste pode surgir dessa comparação entre o Marché d’Aligre e Botafogo. Eu também!

A volta foi um pouco complexa. Um trem pegou fogo e a estação foi fechada. Tive que buscar outra linha. Acabei descendo na Nation e caminhei pelo bouvelard Diderot até minha rua (uns 15 minutos) no frio da meia-noite, mas feliz. É isso. A bientot!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Um mês em Paris

Marta e Ruben após o casamento: o evento do mês

Paris, 18 março 2011. O tempo é um sortilégio. A forma como damos sentido a essa experiência de presente, passado e futuro é meio mágica, parece mesmo ter uma estrutura onírica. Ora nos lança à frente ora nos traz de volta aos vários passados, distantes, próximos... Aí, de repente, nos deparamos com o calendário e tudo muda! Um novo sentido surge e as coisas são automaticamente atualizadas numa nova realidade. Toda essa especulação para dizer que hoje está completando um mês que cheguei a Paris e, ao me dar conta disso, tudo se atualizou na minha cabeça, automaticamente. Um mês em Paris...

Marta, Nathalie e Christian, num café

De um lado, a noção de que o tempo escorre incontrolavelmente e logo, logo essa experiência estará encerrada num aeroporto. Foi um pouco como minha vinda para cá. Saí de um Rio fazendo em média 36 graus, todo mundo se preparando para o carnaval, e amanheci em Paris, fazendo 4 graus, diz cinzento, novo idioma, outra cultura. Mesmo já tendo vindo à cidade várias vezes antes, tudo era novo para mim. E foram a conversa com Joana em casa, no dia da viagem, e a presença mais tarde de Soraya, me ajudando na transição, me levando ao aeroporto e facilitando as coisas com palavras de estímulo que abriram os caminhos dessa viagem.

Nathalie, Marta e Thu, as três amigas


Para celebrar, vou hoje voltar ao canibalismo na Maison Rouge, para concluir a reportagem para o Globo e, à tarde, mergulho na academia, numa palestra com Ulf Hannerz, em Nanterre. Vai ser um debate sobre o tema La complexité culturelle. Depois, à noite, um jantar com o próprio Hannerz e a galera da École. Esse fim de semana, também estarei sozinho na casa de Marta e Ruben. Todos viajarão o fim de semana. Vou me concentrar nas leituras e no trabalho de campo. Acho que minha pesquisa está bem organizada e estruturada de acordo com o tempo que tenho aqui. Amanhã, pretendo ir à Commune d’Aligre e conversar com as pessoas lá. No domingo, quero passar o dia no campo.

Uma cervejinha com baguette e queijo, porque ninguém é de ferro...

A partir da próxima semana, começo em nova casa. Consegui alugar um quarto na casa de um cantora, na Place d’Italie. E o segundo mês promete ser outra história. Também decidi continuar na Alliance por mais duas semanas. Vamos ver. A bientot!

quinta-feira, 17 de março de 2011

O bar como espaço de socialização

Mais uma imagem do Café de l'Industrie, para variar

Paris, 17 março 2011. Os franceses têm uma palavra, bagout, para expressar um tipo especial de loquacidade. Não se trata apenas do dom da eloqüência, da variedade e riqueza vocabular. É algo que tem mais a ver com a formação mesmo literária da pessoa. Um tipo de formação cognitiva de quem foi criado entre livros, mergulhado em narrativas literárias, mais do que audiovisuais. A pessoa que tem o dom do bagout fala como se escrevesse, com todas as estratégias narrativas do texto. É a literatura falada. E, desse modo, uma narrativa banal, comentada quase que casualmente no supermercado ou no café, se torna um grande enredo. Um exemplo literário de bagout é o caboclo Riobaldo, no Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Aliás, ali se trata mesmo de um caso excepcional de narrador, mas justamente por isso dá para se ter a noção do sentido de bagout, que também é traduzido, aí com um tom negativo, como tagarelice.

Zinc é uma expressão que os franceses usam para se referir ao bar e à boemia: se refere ao material metálico que forma o balcão

A experiência de estar mergulhando em outra cultura e em outro idioma, por mais que o francês divida sua raiz com o português no latim, é uma experiência cognitiva riquíssima. A forma como as frases são construídas, certos vocabulários, expressões e formas de falar, tornam cada pessoa em bagouts potenciais para mim. É impossível não prestar atenção à forma como eles se expressam. Não apenas em termos de vocabulário, mas de gestualidade, muxoxos, caretas, sopros e assovios entre palavras. A sonoridade musical da língua. Depois, à medida que vamos aprendendo e mergulhando na sociedade, tudo se naturaliza, inclusive o idioma. Já nada nos chama a atenção.

Ainda estou nesse momento de estranhamento, da cultura e da língua. Portanto, tudo é bastante intenso. Uma operação simples como comprar creme de barbear na farmácia ou baguette na boulangerie se torna uma aventura e eu fico atento às expressões, como o bonjour ou bonsoir, que abre o diálogo dentro da etiqueta de convivência pública em Paris. Mas é a ida aos cafés que me dá esse prazer refinado de ouvir os diálogos adjacentes à minha mesa, enquanto leio um livro. Como no Rio, Paris tem uma parte importante de sua socialização no bar. Quer dizer, aqui é no café ou no bistrot, que são a mesma coisa, sendo que café se refere ao estabelecimento durante o dia e bistrot, à noite.

As meninas estão fumando fora do café, onde é proibido fumar por lei

Em Paris, tenho freqüentado vários cafés e bistrots, mas sobretudo o de l’Industrie. É lá que me sinto em casa. E já começo a conhecer e ser reconhecido. Tem outro café, esse mais popular, mais um pé-sujo, que fica em frente ao Marché d’Aligre e é freqüentado pelos moradores mais antigos do bairro. Também passo por lá sempre que posso. Ali é um bom lugar para ver a vizinhança e fazer anotações etnográficas sobre o bairro. Ontem, acabei comprando um livro ilustrado com muitas fotos chamado: Une vie de zinc: Le bar, ce lien social qui nous unit. Um estudo sobre a importância dos bares em Paris. Teria caído bem esse livro, quando fiz minha dissertação sobre botequins cariocas, exceto que ele foi escrito no ano passado, sete anos depois da minha defesa do mestrado.

Dia cheio em Paris

Uma das peças da exposição sobre canibalismo

Paris, 16 março 2011. Dia cheio hoje. Pela manhã saí de casa e fui a pé à Maison Rouge, na Bastille, para rever a exposição sobre canibalismo e fotografar algumas das peças. Combinei com a editora do Segundo Caderno do Globo, Isabel de Luca, uma matéria para hoje. O texto já está praticamente pronto, mas faltavam as fotos. Cheguei à exposição logo depois que o centro cultural abriu e necas. É preciso uma autorização para fotografar. Tem que enviar um email para a coordenadora de imprensa da Maison. De qualquer modo, revi a exposição e pude apreciá-la melhor do que a primeira vez, quando a casa esteve lotada. Conversei com a Bel, que por coincidência está vindo à Paris na próxima semana, por telefone e combinamos para a semana que vem. Até lá, já devo ter obtido a tal autorização.

Entre as peças que estão na exposição, a que mais me chamou a atenção foram os ladrilhos de Adriana Varejão. Sou fã dessa mulher, por sua arte visceral e sensual. Acho que ela encarna mesmo uma linguagem estética inovadora e original. Outro brasileiro presente na exposição é Vik Muniz, que fez uma fotografia enorme, representando Saturno devorando um de seus filhos (2005), a partir do lixo e entulhos recolhidos por crianças de favela. Muito interessante, sobretudo porque ele faz um diálogo com Francisco de Goya, que tem umas gravuras impressionantes sobre canibalismo, com títulos poéticos, como: O sonho da razão produz monstros; e uma série chamada singelamente de Caprichos. Mas é o trabalho de Adriana que me pega, literalmente, pelas vísceras.

Loja de trajes muçulmanos no Belleville, apesar da proibição do véu na França

Saí da exposição decepcionado por não ter conseguido fazer as fotos, mas com uma fome, como convém ao tema. Fui, então, almoçar no Café de L’Industrie, para variar um pouco. Pedi o que eles chamam aqui de formule, ou menu, que é um pacote, que inclui entrada (normalmente uma salada), prato principal (hoje era uma costela de porco com espagueti ao molho de manteiga e champignons; e sobremesa (no caso um gateau au chocolat). Tudo isso por 10 euros. Mas caí na besteira de pedir ainda uma Perrier e um café e a conta saltou para 15 euros! Francamente...

Barriga forrada, parti rumo à École, para, enfim, dar entrada no cartão da biblioteca das Sciences Pol. Não deu certo também. Para encurtar a história, a mulher responsável pelo processo de acolhimento dos pesquisadores brasileiros já tinha ido embora. Culpa minha, que não marcou a hora. Afinal, estou na França. Mas a boa notícia foi que, enfim, a grana da Capes pingou na conta. Não estou rico, mas pude comprar mais alguns livros, inclusive o de Soraya Silveria Simões: Histoire et ethnographie d’une cite de Rio: La Cruzada São Sebastião. Pois é, a tese de doutorado da saiu primeiro em francês. Não é pra qualquer um.

Ainda voltei à Bastille para uma cerveja e poder folhear os livros comprados. Para variar tomei uma Leffe e depois um café. Depois passei no supermercado e comprei umas besteiras para a casa de Marta e Ruben, onde estou na aba dos amigos. Mas saí logo em seguida para ver o quarto que vou alugar. Saiu por 450 euros por mês, na casa de uma cantora. A relação custo-benefício é boa e a localização é central, na Place d’Italie. Já estou com as chaves, mas me mudo só na próxima terça-feira. De qualquer modo, a casa de Marta e Ruben continuará sendo minha base de trabalho.

Depois disso tudo, cheguei em casa cansadíssimo. Marta fez uma galinha d’Angola com um molho especial, acompanhado de cuscuz marroquino com ervilhas frescas no cominho. Um tinto. Jantamos os quatro: eu, ela, Ruben e Lorenzo. Na sexta-feira, todos eles viajam e vou ficar sozinho o fim de semana. É isso. Vou dormir. Bon nuit!

terça-feira, 15 de março de 2011

O calor, enfim, dá as caras

Essa foto resgatei do carnaval. O sujeito aproveito a folia para reivindicar a legalização da situação dos imigrantes, os sans-papiers

Paris, 15 março 2011. Hoje, início oficial da primavera na França, fez mais um dia de sol e calor. Temperatura flertando com uns 18 graus. Casacão no braço, gorro e cachecol na mochila. Apenas um pulôver e olhe lá. Depois de dois minutos andando já começo a suar. Mas essa época é perigosa. A temperatura oscila enormemente durante o dia. Normalmente amanhece bem frio, esquenta durante o dia e volta esfriar à noite. Mas o legal é que o céu está azul e a luz, límpida. Isso, por si só, melhora o humor de qualquer um.

Ontem, acabou não sendo possível ver o quarto que pretendo alugar. Talvez role de ver hoje. É na Place d’Italie, que é uma boa localização e parece ser totalmente independente da casa, o que para mim é uma questão importante. Continuo esperando a grana da Capes entrar: acabo de voltar do banco e necas. Minha conta está no vermelho. Em parte por minha culpa, pois demorei a enviar os dados da conta para Brasília e, quando o fiz, logo em seguida veio o carnaval. Ou seja, a coisa só deve estar sendo processada essa semana... Viva a folia! Ainda bem que estou bem acolhido na casa de Marta e Ruben, do contrário estaria cantando no metrô. Mas tudo há de se resolver.

As aulas na Alliance estão sendo bastante intensivas e, voilà, úteis. Se a grana entrar, talvez, continue mais um pouco. Ao mesmo tempo, é bem cansativo. São três horas diretas, com vários exercícios e conversações. Estou terminando o fichamento de um artigo sobre gentrification e, amanhã, vou pegar meu cartão da biblioteca da École. Leitura e leitura.

Outro dia tomei um café com Marta nesse botequim, no Marché d'Aligre. É daqueles bares que só tem homem e passa em tempor real os páreos de corrida de cavalo. Todo mundo aposta, tomando uma cervejinha


Enquanto isso, preparo mais uma materinha para o Globo. Dessa vez, para o Segundo Caderno, sobre uma exposição sobre canibalismo. Amanhã, volto à Maison Rouge da Bastille para fotografar algumas das peças. Bem, é isso. Vou terminar o artigo. A bientôt.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Touche pas à mon voisin!

Os manifestantes na République: não toquem no meu vizinho

Paris, 14 março 2011. Estive concentrado numa série de tarefas e acabei não conseguindo atualizar este diário devidamente. Recapitulo, então, um pouco o fim de semana. No sábado acompanhei Marta na cobertura de uma manifestação em defesa da moradia barata e social e contra os despejos. Os manifestantes se concentraram na praça da République e dali seguiram em passeata, com banda, batuques e um carnaval bem-humorado, com palavras de ordem como touche pas à mon voisin! Muitas bandeiras, mas é perceptível um certo desalento, mesmo entre os militantes mais entusiasmados. O impacto negativo do neoliberalismo na vida cotidiana é um fenômeno que abalou a confiança das pessoas.

Na França, há uma lei que impede que as pessoas sejam expulsas de suas casas, mesmo se inadimplentes, durante o inverno. E, como a primavera começa oficialmente amanhã, é comum nesse período ocorrer uma onda de despejos. Os manifestantes também celebravam o fato da mais alta instância da Justiça francesa ter considerado inconstitucional o artigo de uma lei proposta por um deputado conservador, que permitia a retirada à força de moradores inadimplentes ou invasores em 24 horas. Segundo a Justiça, ninguém pode ser removido (exceto em caso de risco iminente à vida) sem direito a um processo legal.

Além da proteção ao trabalho, o setor de habitação tem sido muito afetado pelos cortes públicos

O que seria um passeio acabou se transformando numa pauta jornalística. E mandei uma matéria para o Globo, que publicou na sua edição de domingo, costurando a manifestação de Paris com notícias de agências internacionais. Houve uma grande passeata em Lisboa e outra, em Madri. Enfim, a Europa tenta se mobilizar contra a onda de cortes em benefícios sociais para reduzir o déficit público dos países e espantar o fantasma de um colapso do euro. Enquanto isso, o capital vai muito bem obrigado, com as corporações e, sobretudo, os bancos lucrando cada vez mais.

No domingo, fui a uma feira no 20eme. Arrondissement que faz limite com Belleville. É incrível a diferença em relação às áreas mais bobotizadas. De novo, ouve-se muito árabe, percebe-se uma forte presença africana e especialmente magrebina. Mas já é visível igualmente os novos moradores de classe média alta nos cafés em torno da feira, prédios antigos sendo reformados e os preços do comércio subindo.

Após a feira, eu e Marta tomamos uma cerveja num café antigo, muito interessante e comemos uma baguette com um queijo da região de Auvergne, maturado. Compramos o queijo na feira e o pão, numa boulangerie perto do café. Aqui, além de pode ficar horas à mesa com uma xícara de expresso, lendo ou escrevendo, também é possível trazer lanches e petiscos de fora e fazer um picnic no bar. Esses cafés menores nem têm garçom. Você tem que entrar, pedir a bebida, pagar e depois ocupar a mesa. Foi o que fizemos.

Marta e a baguette no café tradicional do 20eme: çá c'est Paris!

Depois passamos na casa de Thu e Pierre para editar as fotos do casamento. Acabei aprendendo uns truques incríveis no Photoshop, para corrigir distorções inclusive de lente grande angular. Thu, por sua vez, uma especialista em design e mídia eletrônica, me sugeriu colocar anúncios neste França Fantasma... É uma idéia esdrúxula para mim, mas estou considerando. Ela criou um blog muito interessante, inventando personagens, e o site trata do cotidiano de uma adolescente francesa de origem vietnamita que dialoga com sua avó no Vietnã, falando da sua crise de adolescência e coisa e tal. Está fazendo um sucesso a ponto de atrair anunciantes.

Bem, agora, nesta segunda, tenho uma série de coisas para fazer, como pegar meu cartão da biblioteca da École, aula na Alliance e ver um quarto para alugar. De modo que encerro por aqui essa narrativa. A bientôt!

sábado, 12 de março de 2011

Cerveja, champanhe, vinho e uísque japonês

Mais foto do Café L'Industrie

Paris, 12 março 2011. Ontem, enfim, consegui me encontrar com Vivi Fernandes. Esperei por ela um pouco nas escadarias da Opéra da Bastille, onde anunciam uma ópera de Wagner em letras garrafais. As escadas diante do anjo da Bastilha se prestam bem ao papel de ponto de encontro. Há várias pessoas aqui esperando outras. Também é um bom ponto para ver o povo passar para lá e para cá. Com a temperatura fazendo uns confortáveis 16 graus, o céu azul com nuvens em flocos, Paris estava especialmente deliciosa nesta sexta-feira.

Quando Vivi chegou, fomos direto para o Café de L’Industrie, onde almoçamos um peixe feito na manteiga branca, com ervas, arroz e legumes. Para acompanhar o papo e o prato, uma Leffe e, depois, uma Amstel. Vivi está trabalhando como editora da revista de História, da Biblioteca Nacional. De férias na Europa, seguiu ontem para a Alemanha (Berlim, Colônia e Dusseldorf), de onde retorna ao Brasil. Aproveitei para fazer mais algumas fotos do Industrie.

Vivi e eu em Paris

Depois, passamos numa boulangerie, compramos duas baguettes, e demos uma longa caminhada pelo Promenade Plantée, aquele caminho suspenso que atravessa quilômetros e quilômetros de Paris, cercado de árvores, bancos e de um silêncio espantoso, enquanto a cidade mantém sua efervescência abaixo. Viemos à casa de Marta e Ruben, mas eles não estavam. Descemos e tomamos um expresso num café perto do metrô, onde ela embarcou para outro compromisso. Foi ótimo matar a saudade de Vivi, saber notícias de amigos, como Alfredinho, do Bip Bip, Moacyr Luz, Marclo Moutinho e Hugo Sukman.

Por meu lado, fui me encontrar com Ruben e Marta, que estavam perto do Les Hales, mas numa rua muito simpática, repleta de restaurantes aconchegantes, bistrots e cafés. Também muitas lojas interessantes em passagens antiqüíssimas, que me lembraram vagamente a Galeria Menescal. Andamos e andamos. Compramos dois vinhos para o jantar na casa de Nathalie e Christian e para lá fomos.

O jantar na casa de Christian e Nathalie: bossa nova e porco ao mel

O menu: costelinhas de porco no mel, com arroz de três tipos. Depois salada verde, e sorvete com manga em calda, de sobremesa. Para beber, Christian abriu a noite com duas champanhas. No jantar, várias garrafas de vinho (o primeiro era sensacional, leve e "frutuoso", como dizem por aqui), os outros um pouco mais ácidos, mas excelentes. E no fim, um uísque japonês, que tinha gosto de Jack Daniels. Entre os convivas, Sonia, uma nissei brasileira que vive em Paris a vida inteira, Vivian, uma produtora de cinema, que conhece bem o Brasil, sobretudo Rio e São Paulo, e sua amiga, Caroline. Como sempre, exageramos. No fim, Sonia ainda mandou umas canções brasileiras, inclusive uma versão em francês que ela fez do Malandro, do Chico Buarque.

Tomando um cafezinho no balcão

Hoje, amanheci um pouco ressaqueado, mas nada que um bom café da manhã não resolvesse. Acompanhei Marta na cobertura de uma manifestação contra o aumento exorbitante dos alugueis na França e o despejo de inquilinos inadimplentes e me empolguei, a ponto de fazer uma matéria (texto e fotos) para o Globo. Depois fomos a pé a uma área bastante interessante, uma galeria (Bradry) que a Cristiana Brindeiro já havia me falado, de lojas indianas e outra (Prado) que parecia um suq árabe ou bazar persa, não sei bem. Tomamos um café num bar bem antigo. E voltamos para casa para eu enviar a matéria para o Globo a tempo do fechamento.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Ne vous inquiétez pas, monsieur!

Minha Leffe de alto teor alcoólico e sabor encorpado no Café de l'Industrie

Paris, 11 março 2011. Ontem, conheci o apartamento de Colette Pétonnet. Para quem não a conhece, essa senhora de quase 90 anos escreveu um clássico da antropologia urbana francesa, L’observation flottante, que trata da prática etnográfica de flanar pela cidade. Eu a conheci no Rio, no ano passado, quando ela participou do Colóquio sobre os 50 anos do primeiro estudo sistemático sobre favelas, dirigido pelo professor José Arthur Rios. O evento foi organizado pelo Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro), do IFCS/UFRJ, coordenado por Marco Antonio da Silva Mello e do qual sou pesquisador. Do evento sairá agora um livro e precisávamos de um documento de autorização de Colette para usar seu texto e fotos. Tarefa que acabou na minha conta.

O apartamento de Colette fica numa passagem perto da faubourg Saint Antoine, a Passage de la main d’or. Essas passagens antigas, que se dão entre prédios, são um charme. Parece que a gente sai da cidade. Seu escritório é, como eu imaginava, repleto de livros. Mas tudo me pareceu organizado e em seu lugar. Dá para imaginar alguém trabalhando ali. Ela divide a casa com uma psicanalista, de linha freudiana, muito simpática. Batemos um papinho rápido. Infelizmente, Colette estava se recuperando de uma cirurgia à la campagne e não pude conversar com ela.

Depois, fui de metrô à Alliance e, de novo, uma série de personagens interessantes e assustadores. São uma espécie de espectro, errando pelos trens, pedindo dinheiro, clamando por atenção e sei lá mais o quê. Primeiro foi um clarinetista, que levava um amplificador com a gravação de várias canções, apenas a harmonia, e ele fazia a melodia e depois improvisava, com uma técnica realmente virtuosa. Fiquei impressionado a ponto de dar 2 euros para felicidade do sujeito.

No segundo trem (a mesma linha em que embarcou a menina deprimida com o cachorrinho outro dia), tinha um americano, gritando com a voz de bêbado: “Fuck! No more French. Let’s speak English, american English!”. E os franceses fazendo a egípcia, lendo suas edições do Le Monde, Libé e coisa e tal. Não era com eles. Pois foi o cara descer e, na mesma estação, entrou outro. Um francês, com a cara enfezada, dizendo que tem 35 anos, está desempregado e não consegue trabalho. Pediu ajuda, mas de um jeito um tanto agressivo. Um rapaz à minha frente, deu umas moedas e reparei que todo mundo olhou, reprovando.

A ambiência do bar muda completamente entre o dia e a noite. Quando escurece, eles reduzem a luz e há uma troca de turno de garçonetes

Cheguei enfim à Alliance, onde tivemos três horas de aula intensiva. O tema do dia foi preparar o menu de um jantar. Ou seja, um tema bem francês! E eu que só estava com o café da manhã, sai da aula com uma fome de cão sem dono. Achei um pequeno bistrot chinês e pedi um menu de 13 euros. Depois, com o estômago forrado, fui para a Bastille, onde havia combinado uma cerveja com Vivi Fernandes, uma amiga brasileira que está de passagem por Paris, rumo à Alemanha. Como não tinha o seu telefone, marquei a cerveja por email, e fui pra lá sem saber se ela teria recebido ou não a mensagem. E, claro, ela só leu depois, à noite.

De qualquer modo, curti umas duas horas ali no Café de l’Industrie, degustando uma Leffe ruiva. Fiz anotações, escrevi cartas, li e fotografei (vejam as fotos acima) o bar. Acho que já mencionei, mas vale repetir: as garçonetes do Industrie parecem modelos, desfilando num evento ambientado em um bar ou coisa que o valha. Uma lourinha, muito simpática e sorridente foi pegar algo bem ao lado da minha mesa, justo na hora em que eu estava concentrado escrevendo. Olhei para ela com um ar de surpresa e ela mandou:

“Ne vous inquiétez pas, monsieur!”

Encantado com sua beleza, respondi sem pensar:

“Çá c’est impossible!”

Ela sorriu. E eu também, feliz por ter feiro o que me pareceu um galanteio em francês, em Paris, sem ter recebido uma resposta mau-humorada, se é que ela entendeu a brincadeira, mas acho que pelo menos intuiu. Hoje, volto lá, para almoçar com Vivi. Agora, com o rendez-vous devidamente marcado.

À noite eu, Marta e Ruben vamos a um jantar na casa de Nathalie et Christian. Não sei qual é o menu.

A bientôt!

quinta-feira, 10 de março de 2011

Aproveitando o silêncio

A sala da casa de Marta e Ruben, boa para ler e escrever quando está silenciosa

Paris, 10 março 2011. Ontem foi um dia sem muitas aventuras por aqui. Aproveitei o silêncio da casa para adiantar o relatório que terei que entregar à Capes, após o término da missão na França. Há muita coisa acontecendo que, se não forem registradas logo, se perdem na memória. Também avancei na leitura do livro do Boltanski, que, creio, poderá ser uma base boa para relacionar o problema da gentrification ao neoliberalismo que vem influindo no tipo de urbanismo das principais metrópoles do mundo. Ou seja, passei boa parte do dia em casa, concentrado. O tempo estava feio e chuvoso, o que ajudou minha decisão de ficar concentrado.

A casa de Marta e Ruben tem uma dinâmica coletiva. Tudo o que se faz aqui requer a participação de todos, sobretudo nos momentos da refeição. Sempre que possível se come junto, do café da manhã ao jantar. Também todos se levantam e se deitam mais ou menos na mesma hora. A rádio sintonizada na Fip é ligada tão logo todos estejam de pé e as músicas mais variadas tomam conta do ambiente. De modo que é estamos sempre conversando intensamente sobre as coisas.

Para mim que vivo sozinho há muitos anos, é um pouco estranho essa dinâmica. Às vezes sinto falta do silêncio para produzir. Percebo que estou acumulando uma série de informações importantes, não apenas sobre o projeto de pós-doutorado em si, mas em geral, e não tenho tempo de digeri-las, pois estou em constante comunicação com o pessoal da casa. Isso reforça a necessidade de encontrar logo um cantinho para mim. De qualquer maneira, Marta e Ruben vão para Barcelona na semana que vem por uns quatro dias e, se não tiver rolado um apê até lá, terei um tempinho para organizar melhor as coisas.

Por outro lado, é muito bom ter essa convivência. Conversamos muito sobre a vida, as coisas, os amores etc. E eles, sobretudo Ruben, estão sempre me incentivando a mergulhar no campo, por assim dizer. Meter as caras e mesmo com o francês ainda meio capenga, buscar as associações d’Aligre e coisa e tal. E ele está certo. Falando nisso, consegui um bom contato no bairro.

Mais um auto-retrato narcísico ou pura falta do que fazer

Bem, ontem, já no fim da tarde, dei uma longa caminhada pelo bairro. Dessa vez, por um lado que não conhecia ainda. Descobri a continuação do chamado caminho verde, uma pracinha no meio de um bosque, excelente lugar para ler, quando estiver um pouco mais quente. Depois voltei para casa e jantamos juntos. O menu foi um filé de porco com mel, gengibre, canela e curry, acompanhado por legumes. De entrada uma sopa de petit pois com hortelã. E a calça continua caindo.

Hoje, tenho que pegar um documento na casa de Colette Pétonnet, seguir para a Alliance e me encontrar com Vivi Fernandes, que chegou ontem do Rio. Vamos tomar um copo de vinho em algum lugar e jogar conversa fora.

terça-feira, 8 de março de 2011

Suando em Paris


Paris, 8 março 2011. Hoje foi, de longe, o dia mais quente desde que cheguei à Paris. Fez uns belos 13 graus e eu suei pra burro, tendo saído de casa com pulôver, camiseta de manga comprida, casaco de inverno, cachecol e gorro. Foi quase tudo para dentro da mochila. Passei o dia estudando francês na Alliance e depois peguei o metrô até a estação Saint-Michel para namorar os livros da Gibert Jeune. Ele tem um sebo esperto, com livro a partir de 1 euro. Mas não comprei nada. Não tenho condições de gastar nada em livro neste momento. Espero ansiosamente a grana da bolsa cair na conta, mas no Brasil é carnaval e o processo demora uns 20 dias, de modo que só poderei contar com isso no fim do mês.


Isso coloca um problema mais ou menos sério. É que estou hospedado na casa de Marta e Ruben já há algum tempo, o que é meio chato. A gente acaba atrapalhando o cotidiano dos anfitriões e a sensação de que já estou passando da hora de sair daqui está na minha cabeça. Evidentemente que eles não falam nada, nem sequer dão uma indireta sobre isso, mas, como dizem os mineiros, visita é como peixe, a partir do terceiro dia começa a feder. Enquanto isso, vou sondando possibilidades de aluguel. Está tudo muito caro em Paris. Uma amiga do casal, de Belém, mencionou que há uma brasileira querendo dividir um apartamento com quarto independente perto da Place de Italie, que não é tão longe daqui. Sinto que só falta eu arrumar meu cantinho para o resto das coisas deslancharem por aqui.


Bem, em homenagem à folia, coloco mais algumas fotos do carnaval do domingo passado. Seguindo a sugestão da Giovanna, vou colocar um link para o Tumblr, que é um blog mais friendly para colocar imagens. É isso.