domingo, 27 de fevereiro de 2011

E lá se foi o porquinho

Na biblioteca Mitterrand, domingo, depois de uma caminhada de uma hora e tanto para queimar o jantar da véspera

Paris, 27 fevereiro 2011. O Rio está em pleno carnaval e eu por aqui... Humm! Bem, acho que sempre queremos estar onde não estamos. Mas não posso reclamar. Apesar de sentir a falta das pessoas, umas poucas de forma especialmente aguda, estou gostando muito de descortinar Paris. É como se todas as viagens anteriores para cá, todos os eventos, maravilhosos e terríveis que vivi nesta cidade, fossem como uma preparação para este momento. Reconheci alguns sentimentos bem parisienses para mim. Uma espécie de melancolia cosmopolita, muito diferente da coisa bruta e maravilhosamente selvagem do Rio.

Fiz essa foto do casamento, na prefeitura. Acho que simboliza bem o momento

Hoje, a temperatura ajudou, embora frio (uns oito graus). O tempo abriu à tarde e fui conhecer a biblioteca Mitterrand com Marta e Ruben. É um bom lugar para estudar, ler, escrever e pesquisar. São quatro edifícios em formato de livros abertos. No centro, eles reproduziram uma floresta de verdade. Coisa de maluco. Ao lado, várias salas de cinema e tudo isso ao lado Rio Sena. Parece que no fim da primavera toda a orla fica cheia de barzinhos e a galera bebe uma cervejinha em frente ao rio. Como pesquisador, penso eu, tenho direito a usar as salas de leitura a qualquer hora. De qualquer forma, elas estão disponíveis em vários horários gratuitamente. Soraya também me enviou uma série de dicas de lugares para se concentrar nas leituras e vou experimentá-los essa semana.

O leitão chega à mesa, para estupefação geral (mesmo pra cá a coisa foi considerada um exagero)

O Thévenot enviou hoje um e-mail dando as boas-vindas a mim e à Laura Graziela, que vai ficar um ano em Paris como pesquisadora convidada da École. Nós ficamos de ir juntos à EHESS. É um alívio ter a Laura por aqui, pois posso compartilhar com ela os percalços da burocracia kafkiana a que estamos submetidos. Também falei com o professor Daniel Cefaï por telefone. Ele vai me dar umas dicas bibliográficas e concordou comigo que meu trabalho aqui deve se centrar em selecionar e aprofundar uma bibliografia sobre os processos de gentrification no cartier d’Aligre. Tô sentido que o Daniel será uma espécie de orientador informal nessa empreitada, o que será ótimo. Amanhã, quero ver os cursos de francês. Tinha pensado na Aliance, mas a Laura sugeriu outro curso. Vamos ver. Também recebi o código de minha conta no Le Crédit Lyonnais (LCL), acho que, agora, o dinheiro da Capes vai entrar sem problemas.

Os convivas já pelas tantas da madrugada

Ontem, Marta e Ruben se casaram. Foi um evento. Primeiro a oficialização na prefeitura, depois uma champanhe na casa de um casal de amigos dos dois, Thu e Pierre. Depois fomos caminhando da Nation à Crozatier para nos prepararmos para o jantar. Coisa séria. Demos um trato na casa, porque a Marta fez questão de compor uma mesa com os 15 convidados. Nada de fazer o prato e comer no colo. Ela queria todo mundo à mesa, e portanto tivemos que multiplicar o tamanho da mesa, o que fizemos improvisando umas tábuas. No fim, deu tudo certo. Aproveitei para treinar meu francês e fui comprar azeitonas do árabe, queijo na portuguesa, pão na boulangerie em frente ao Marché d’Aligre e água mineral especial para grávidas (sim, meus amigos, aqui tem disso..), para uma das convidadas, que espera gêmeos e está no quarto mês.

O pobre o leitão, devidamente devorado

Depois voltei com Ruben ao Marché para pegar o leitão, que havíamos encomendado. Nove quilos e um perfume, que me lembrou o joelho de porco que o Pimenta faz em Santa Teresa. Enquanto isso, na casa, Lorenzo preparava as saladas da entrada, depois de já ter feito as sobremesas, duas tortas sensacionais. Marta trabalhava nos dois tipos de purê (um de abóbora e outro de uma espécie de prima de segundo grau da batata doce, cujo nome me esqueci). Tudo pronto, as pessoas foram chegando. Abrimos mais champanhe e dá-lhe azeitonas (três tipos diferentes). Quando todos os 15 já haviam chegado, começamos o banquete.

Primeiro veio a salada (duas camadas distintas em círculos: uma de pepinos e tomates cortados em quadrados, uns fiapos de cebola , ao lado de três tipos de alface no vinagre balsâmico) com torrada de baguette e fois gras. Invenção do Lorenzo. Depois chegou o leitão à mesa. Inteiro, com as patas amarradas, cozido e depois assado mais de cinco horas. Servido com os dois purês. Passamos para um tinto comprado especialmente para o evento e pensando na harmonia com o prato principal. Foi uma noite bem divertida e de muita conversa. Foi ótimo para treinar o francês. Vários dos visitantes ficaram curiosos e interessados sobre meu objeto de estudo e parecem estar bastantes conscientes sobre o processo de gentrification ou bo botização em Paris. Foi uma boa noitada.

Hoje, caminhei muito para compensar os excessos de ontem.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Ça marche

O Arco do Triunfo, cartão postal e ponto de encontro de turistas

Paris, 25 fevereiro 2011. Hoje fui ao Banco do Brasil, pertinho do Arco do Triunfo, resgatar o dinheiro que a Capes depositou na minha conta no Rio. Tudo correu bem e descobri que posso enviar dinheiro para o Brasil por lá pagando taxas altas, mas se for com freqüência mensal, elas caem bastante. Mas deve haver opções mais fáceis e baratas. Para chegar lá, peguei a linha 1 do metrô e fui de Reuilly Diderot até a estação DeGaulle Etoille, no Arco do Triunfo. É uma área bem turística que não me interessa muito, mas foi bom caminhar por lá. Um grupo de jovens com um som alto, numa das esquinas, dançava RAP ou seja lá o que for isso. Interessante, me lembrou o Largo da Carioca, onde se vê muito circo também.

Agora, com esse dinheirinho (vejam que usei o diminutivo) posso me matricular na Aliança para acelerar o aprendizado da língua. Isso é realmente um entrave. Ainda mais que me bateu uma certa timidez desde que cheguei aqui. Agora é que estou começando a soltar a franga com o idioma (no bem sentido, evidentemente). Falando em idioma, ontem, no jantar, Ruben usou um neologismo em espanhol que gostei muito para identificar o processo de chegada dos gentrifiers ao Marché d'Aligre: "bobotización!". É um neologismo, é uma categoria nativa e, portanto, tem que ser bem explicado ao usar o termo como conceito sociológico, mas é bem melhor do que gentrification, que remete ao processo de aburguesamento no Reino Unido. Enfim, coisas para queimar a mufa!

O pessoal do RAP perto do Arco do Triunfo

Hoje, enviei e-mails pra todo mundo aqui: Thévenot, Daniel Cefaï, Pedro Garcia, Agnès e tal. Me arrisquei no francês numa livraria e, depois voltei ao Marché d’Aligre. Comprei mais queijo de cabra, outros tipos para contrastar. A menina da livraria foi muito simpática, o quejeiro também foi atencioso, mas mais frio. É impressionante a elegância por aqui. Anda-se na rua como se estivéssemos em um desfile de moda. Mas o frio é meio sacal. De qualquer modo, hoje continuou nos 10 graus e eu suei bastante nas minhas caminhadas. Agora, vou ler um pouco e me concentrar nas questões sociológicas que me aguardam... A bientôt!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ainda o estrangeiro

Esta foto é de 2002, quando estive aqui pela última vez e encontrei com minha colega do Globo Flavia Barbosa

Paris, 24 fevereiro 2011. Essa viagem me traz momentos de evocação de outros tempos, com a força de um encantamento. As imagens do passado chegam com tremenda força e se impõe a ponto de me distrair das situações. Depois dos queijos e vinhos do almoço, mergulhei em leituras e estudos. A casa estava quieta e é incrível como Paris é bem menos barulhenta que o Rio. Avancei na leitura crítica dos estruturalistas, muito esclarecedor, sobretudo para minha geração. Depois Marta, Ruben e Lorenzo chegaram e comemos uma pasta com legumes à base de um azeite de nós do Marrocos com um tinto de Turenne e o resto dos queijos. Exagerei.

E, agora, que cada um foi se recolhendo, me vejo aqui na sala, escrevendo no computador, ouvindo a Fip, uma rádio sensacional, que toca de tudo (de clássico a rock’n’roll, a bossa nova e música africana). Me bateram umas lembranças do período em que vivi em Nova York, no século XIV. Não sei bem explicar, é tudo meio confuso e difuso. São sensações mais do que lembranças concretas de algo. Apenas sei que já senti isso antes. Essa coisa do estrangeiro, de estar fora do país, cheio de possibilidades e ao mesmo tempo sem ainda pertencer totalmente ao lugar.

Também tenho lembrado muito das últimas vezes em que estive em Paris, 95,96 e 2002... Muita coisa mudou na cidade e nada mudou ao mesmo tempo. Tenho outra cabeça e estou aqui numa circunstância muito distinta daquelas de Nova York e Paris do passado. Perceber isso me dá uma dimensão de maturidade que é simultaneamente libertador e assustador. Libertador porque me sinto no auge da minha capacidade de viver essa experiência e assustador porque tudo pode acontecer.

Também me dou conta de como me tornei um carioca depois de tanto tempo vivendo nessa cidade maluca. Gosto do Rio de Janeiro, da sua luz, do seu calor. De poder mergulhar no mar à noite e assistir um ensaio do Boitatá na rua do Mercado, por exemplo. Acho que no fundo nunca quis morar fora dali. Cheguei mesmo a devolver o greencard no consulado americano, para espanto do agente consular. Acho que é isso que me permite circular por aqui curtindo as coisas, mas sem achar que estou numa civilização superior.

Estou curioso da reunião de casamento no sábado, quando virão umas 15 pessoas traçar o leitão encomendado outro dia. Estou querendo reencontrar algumas delas e conhecer outras. De qualquer modo, tão logo arranje a questão de banco, pretendo me mandar pra um estudiozinho aqui por Paris mesmo, onde poderei me concentrar ainda mais no trabalho de campo. Falando nisso, descobri que os africanos da esquina do mercado d’Aligre são militantes do movimento dos sans papier, os imigrantes ilegais que estão enfrentando uma dura das novas políticas de Sarkozy.

Bem, chega. Vou dormir. No Rio, a noite ainda desponta, mas aqui já é quase meia-noite.

Queijos e vinhos

Queijos, baguette e um Bordeaux pro almoço...

Paris, 24 fevereiro 2011. Hoje andei por Paris sozinho. Saí de casa para ir ao banco entregar um documento que ficou faltando para ativar a conta corrente e dei de cara com a agência fechada. De meio-dia às 14h, o banco fecha! Tinha que esperar uma hora, então resolvi caminhar pelo Marché d’Aligre. Cheguei lá e a feira tinha acabado de acabar. Estavam lavando as calçadas e as barracas que ficam fora do mercado já estavam desmontadas. Dei uma circulada por ali e vi muitos africanos na esquina, como um grupo. Tenho que descobrir o que fazem ali todos os dias. Acho que pedem dinheiro. Dei uma circulada pelas imediações do mercado. Descobri uma livraria bem charmosa e quase entrei, mas me controlei a tempo. Antes de qualquer extravagância literária tenho que garantir que minha conta esteja aberta e a grana entrando. Ainda estou na aba de Soraya, com uns 60 e tantos euros. Mas já namorei da vitrine mesmo dois ou três livrinhos... deixemos para o tempo das vacas gordas. Falando nisso, terá entrado a grana do PAR? Mistério para mim aqui.

Para matar o tempo, resolvi caminhar e dar uma suadinha, aproveitando que o tempo melhorou (hoje está uns 10 graus!). Fui pelo boulevard Diderot até os arcos pertos da Gare de Lyon e, de lá, caminhei até a Bastille. Fecharam a velha loja da Fnac ao lado da Opera! Sinais dos tempos! Peguei o Faubourg Saint Antoine e caminhei até a Crozatier, para pegar de novo a Diderot e chegar à agência do LCL que... continuava fechada! Voltei então ao Marché d'Aligre e fui ao supermercado (Monoprix). Como não tinha almoçado, comprei um brie, um outro queijo suave com ervas para juntar com os três de cabra que estão em casa me esperando. Comprei uma baguette e uma meia garrafa de Bordeaux Saint-Emilion, 2009, mis em boteille au chateau! Passei no banco, resolvi as coisas com a simpática Raphaëlle. Agora, estou aqui, ouvindo a Fip num queijos e vinhos alone...

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Caravanas, suqs e bazares


Paris, 23 fevereiro 2011. Dito e feito. Marta saiu com as meninas da agência Réa, e nós, os rapazes preguiçosos, fomos ao restaurante marroquino da esquina: o Le Berbère. Ruben e Lorenzo comeram cuscuz marroquino e eu, um tajine d'agneau (um prato de paletas de cordeiro feito em panela de barro, com cebolas, batatas, num molho meio adocicado e bem quente) com uma meia garrafa de tinto marroquino que não fez feio. Pensei na exposição sobre canibalismo e no livro do Clifford Geertz sobre o mercado de Sefrou, no Marrocos. Acho que hoje vou sonhar com caravanas, suqs árabes e bazares persas. Antes estava morrendo de frio, agora estou quase suando (lá fora a temperatura continua em torno de 2 graus...).

É isso, acho que vou me retirar para debaixo das cobertas e sonhar (aqui são quase 23h, no Rio, 19h). Amanhã é dia de fazer muitas coisas. Coloco acima uma foto que fiz na exposição sobre canibalismo, um pedaço de um quadro imenso que representa alguma coisa intestinal, sexual, patafísico ou seja lá o que pretendeu o artista. Boa noite.

Abaixo, a receita do tajine de cordeiro que achei na internet (parecido com o que comi hoje):

TAGINE DE CORDEIRO
Tagine ou Tajine é um prato tradicional em diversos países árabes do Norte da África oriundo do Marrocos.Chama-se tb. tagine a panela onde é feito o prato que tem a tampa em formato de um cone.

INGREDIENTES: Para 8 porções.

800g de carne e cordeiro em cubos de 3 cm., azeite, sal.pimenta do reino preta moida a gosto, 2 dentes de alho picados, 1 cebola picada, 1/2 xic. de molho de
tomate, 2 colheres de vinagre de vinho,125ml de suco de laranja ou vinho branco, caldo de cordeiro 500ml.,zestes (raspas) de casca de laranja,1 pau de canela, 1/2 colher de chá de coentro em pó, 1/4 de colher de chá de cominho.1/2 colher de sopa de cúrcuma, 1/2 colher de sopa de gengibre em pó, páprica doce 1 colher de sopa, 1/2 colher de chá de páprica picante, 1 colher de sopa de mel, 2 colheres de sopa de salsinha picada,amendoas tostadas 80g, damasco 50g. , passas de uva pretas sem caroço 20g, tamaras sem caroço 30g, hortelã picada, 2 colheres de sopa.

PREPARO:

Tempere a carne com sal e pimenta do reino moida na hora. Doure a carne na panela de ferro ou numa frigideira de fundo espesso. Reserve. Na mesma panela refogue o alho e a cebola e reponha a carnde de cordeiro. Adicione o vinagre, o molho de tomate e vinho branco e reduza um pouco. Adicione o caldo de carne (cordeiro)
Junte as zestes (raspas), a canela em pau e as demais especiarias em pó. Junte o mel e a salsa picada.

Cozinhe tampado em fogo baixo ou forno a 180.C por mais ou menos 2 horas.obs. Cuide para não secar se for preciso acrescente mais caldo ou água quente. Corrija o sal e a pimenta a acrescente as amêndoas, as passas e a hortelã. Sirva com couscous marroquino. Bom proveito.

Contra o frio, sopa

Marta no contraluz de sua casa

Paris, 23 fevereiro 2011. As coisas vão aos poucos se acomodando na nova vida parisiense. Hoje, acordei, tomei café e saí com Marta para abrir uma conta bancária. Tudo certo para ter a tal carte bleu. Abri conta numa agência do LCL, aqui perto, no Boulevard Diderot. Atendido simpaticamente pela funcionária, Raphaëlle, que obviamente tentou me empurrar todo tipo de serviço (e tarifas). Fiquei no básico. Já encaminhei os dados bancários para a Capes. Espero que coisa flua sem problemas. Ainda não consegui sacar o dinheiro do Banco do Brasil aqui. Amanhã vou tentar ir à agencia do BB em Paris, no 16eme, para tentar resolver isso. Também soube que o dinheiro do PAR, no Globo, deve entrar amanhã. Uma boa notícia. Só não sabemos exatamente quanto.

Depois, demos mais uma volta pelo Marché d’Aligre e almoçamos sopa numa lojinha simpática, especializada no produto: Le Bar à Soupes, na 33, rue de Charonne, no 11eme. Eles têm um site: www.lebarasoupes.com e até vendem livros com suas receitas de sopas para inverno e verão. Tomei uma sopa de grão de bico com pimentas, pão, um queijinho de cabra e um tinto da casa. Perfeito para o tempo: hoje foi o dia mais frio desde que cheguei aqui e, além disso, chuvoso e com ventos. Fez menos de 2 graus. Em alguns lugares da França voltou a nevar e há uma certa expectativa que Paris amanheça coberto de neve em algum momento. Vamos ver.

Voltei para casa para mandar os dados do banco para Brasília e tentar desvendar o mistério do Banco do Brasil. Hoje à noite, Marta vai sair com as meninas da agência de fotografia onde trabalha. Uma noite só de meninas. Então, eu, Ruben e Lorenzo vamos tomar um copo em algum lugar, provavelmente perto da Bastille. Hoje, recebi mensagem de Andre Miranda, colega do Globo que chegou a Paris. Vamos marcar uma cerveja ou vinho qualquer hora dessas.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Bodas parisienses


Paris, 22 fevereiro 2011. Hoje foi um dia de ficar em casa pela manhã e trabalhar no levantamento de dados. Me rematriculei na Maison Brésil, em busca de um alojamento e também estou procurando apartamento. Vi que a grana entrou, enfim. Lá na minha conta no Banco do Brasil, agora só tenho que configurar como sacar aqui... etapa 2. Consegui também fazer a transferência de endereço da entrega do Globo, para a casa da minha mãe. Tinha esquecido disso e os jornais provavelmente estão acumulando na porta do meu apartamento em Botafogo.

Quanto ao cotidiano de Paris, à tarde fui às compras com Marta e Ruben. Eles vão se casar no sábado e vamos fazer um petit comité para umas 15 pessoas. Então fomos ao Marché d'Aligre encomendar um leitão para o banquete. Compramos também o vinho, especialíssimo, para a ocasião (um almoço na rua, após o casamento no civil, e o jantar, quando o leitão será devidamente traçado pelos felizes convivas). Aproveitei para comprar uns três queijos de cabra pra comparar. Também entrei numa espécie de grosseries store árabe e vi uma profusão de ervas, raízes e temperos, inclusive os 11 ou 15 elementos para fazer curry... vou me abastecer lá, antes de voltar ao Brasil.

De volta à casa (hoje fez sol, mas a temperatura caiu para uns 2 graus), comemos uns caracóis pequenos (meio borrachudos, mas gostosos) de aperitivo e jantamos uma paella de frutos do mar. Enquanto isso, vou perdendo peso. O cinto que estava no primeiro buraco, agora está no terceiro, e a calça continua caindo... Comer bem e emagrecer, parece um milagre... Ah! Matamos um branco: Grenache Blanc 2009, sugerido pela sommelier da cave que visitamos no Marché para harmonizar com a paella.

Não pensem que estou ficando obsessivo com essa história de comida e vinhos. É o cotidiano aqui que é assim. O tempo todo, os parisienses estão pensando e planejando seus almoços e jantares. Nada é muito casual quando se trata de cozinha. É cheio de regras. Me propus a fazer uma farofa brasileira para o Lorenzo, que gosta do prato, mas como farofa é acompanhamento, estou enrascado em pensar no prato principal: uma feijoada, provavelmente. O que corre o risco de ser um fiasco... Se alguém souber de dicas, me avise, por favor. Comida aqui é coisa séria.

A foto é do casal de noivos, Marta e Ruben, caminhando por Paris.

Recapitulando ontem

Eu e Ruben em foto de Marta, no mercado, domingo, comendo ostras, frios e patês, com um Sancerre blanc

Paris, 22 fevereiro 2011. Ontem tivemos um excelente jantar. Um cozido com bochechas de porco e muitos, muitos legumes e batata doce, precedido por uma salada verde, num molho simples, porém delicioso: vinagre, azeite e shoyo, numa certa dosagem, o que acaba substituindo o sal. Abrimos uma garrafa de um Bourgogne de 2008 (mais suave e transparente que o Bordeaux). Conversamos sobre muitas coisas, inclusive comida. É bom que Lorenzo esteja presente, o que me obriga a me esforçar a falar francês, pois com Marta e Ruben é espanhol e português direto. Ele espera que eu faça uma feijoada com farofa. Não sei se estou à altura. Aqui, comer bem e harmonicamente é coisa séria. Na véspera, Marta ficou chateada porque o peixe que fez, soltou muita água e empobreceu o tempero... Para mim, estava uma delícia. Esses nativos!

Lorenzo se prepara para o café da manhã, antes de partir para a escola de gastronomia

A caminhada com Ruben também foi muito boa. Ele tem a visão de um artista plástico e Paris convida mesmo a esse olhar sobre as coisas. Tudo tem história e uma harmonia que não se vê no Rio, onde as coisas são construídas e destruídas ao sabor dos interesses financeiros. Vi jardins, palácios, parques, bulevares e muitas lojas interessantes: de design, de moda (pensei em comprar um vestido pra ela!) e livrarias... Ah! As livrarias! Vou ter que me manter afastado delas, do contrário ficarei pobre! Vi num armazém as peças de fois gras, ainda cru, para serem preparadas. Uma arte da culinária francesa. Em outra loja, o chef se especializou em especiarias, que ele mistura e batiza com nomes oníricos. Parece mesmo uma coisa de sortilégio. Os variados tipos de curry que ele prepara, entre outros segredos, perfumam tudo ao redor.

Pão, frutas e queijos com muito café para aquecer de manhã

Estamos tentando programar uma ida ao concerto da fadista Misia. Um fado moderno, que anda fazendo sucesso por aqui. Segundo o jornal, a Misia “est la plus zen, la plus sophistiquée, la plus introspective des chanteuses de fado”... Vamos ver. Estou ainda enrolado com banco. A Capes ficou de depositar a primeira parte da bolsa na minha conta do Banco do Brasil, no Rio. Tenho que descobri como faço para sacar aqui... Ainda estou usando a grana que a me emprestou. Sou nulo nessas coisas burocráticas, bancárias...

Aproveito para pôr mais algumas fotos, da casa, das ostras, dos passeios...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Enguias e bochechas de porco


Paris, 21 fevereiro 2011. O dia amanheceu ensolarado. Meu fuso horário ainda está meio ligado ao Rio de Janeiro. Levantei aqui umas 9h30, no Rio: 5h30... Marta e Lorenzo saíram cedo para seus afazeres. Ruben, que havia trabalhado de 23h30 às 4h30, dormia um pouco mais. Aproveitei para fazer anotações de campo, pôr o e-mail em dia e ler um pouco. Fiz um cafezinho e comi um pão com passas sensacional. Depois, Ruben se levantou e fizemos uma caminhada de umas três horas e tanta pela cidade. Pena que o tempo virou e choveu. Aproveitei para fazer minha carteira do metrô. Andamos e andamos. Almoçamos num armazém coreano. Comi enguia no shoyo e um arroz empanado. Tudo muito saboroso. Depois andamos e andamos. A cidade está repleta de turistas. Tomamos um expresso no Café L’Industrie, um dos meus botecos preferidos de Paris. Continua o mesmo de anos e anos atrás. Passamos no supermercados para pegar duas garrafas de vinho para o jantar. O menu será bochechas de porco (seja lá o que isso signifique). A idéia agora preparar a comida e depois dormir profundamente.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ostras, vinho, frios e canibalismo

Feira de alimentos e de antiguidades do lado de fora do mercado

Paris, 20 fevereiro 2011. Temperatura 7 graus, tempo nublado. A sensação de frio foi pior porque está ventando. Ontem choveu, hoje ventou. Mas mesmo assim fiz um pouco de campo. Fui ao Marché D'Aligre com Marta e Ruben comprar um mignon para amanhã e uns peixinhos para hoje. Enquanto os dois compravam as coisas, eu circulei, fiz timidamente umas fotos do mercado, que está sob pressão para fechar mais dias. Ele abre todos os dias, exceto às segunda-feiras. E os comerciantes estao passando um abaixo-assinado para manter as coisas, com o argumento de que o mercado tem 200 anos e não pode ser modificado. Já é parte do conflito entre aqueles que querem revitalizar e modernizar e os que defendem uma idéia de autenticidade.

Depois de circular pelas barracas internas e externas do mercado, especializadas em todo tipo de comida. Achei uma barraca só de queijos, uma variedade enorme, outra de carnes de caça, aves, porcos, havia uma portuguesa, com bacalhau e outra só de azeites. Fantástico! Depois fomos ao Baron Rouge. um bar quase de esquina, que fica lotado, e lembra o Bracarense dos bons tempos. Estava muito cheio, então fomos em outro. Sentamos na calçada em pleno frio e pedimos um vinha branco de Sancerre, que harmonizava bem com as ostras e a tábua de frios que pedimos. Uma delícia, sobretudo um patê do campo, que tinha várias coisas. Conversamos sobre muitas coisas do bairro e como se faz o foie gras... um papo francês. Em dad0 momento, veio um cigano, agressivamente, pedir comida, quase enfiando a mão. O clima com os ciganos aqui está bem pesado e eles são agressivos também. Mandamos pastar.

Depois vimos a feira ser desmontada e pegamos várias verduras que seria jogadas fora. Soube que há um movimento contra o desperdício de comida no fim das feiras, em que se acusa os europeus de jogar comida fora. E muitas pessoas conscientes vêm à xepa pegar verduras, frutas e legumes que, de outro modo, seriam jogados fora. Trouxemos uma caixa de uma folhinha verde, que não tenho a menor idéia do que seja. Durante o momento em que circulei pelo mercado D'Aligre, ouvi muito árabe e vi claramente a mistura de moradores de origem magrebina e os bobos (bourgeois-bohème), os novos moradores de classe média alta que estão "invadindo" a região. Me lembrei muito de Botafogo.

Ostras, frios, pão e uma meia garrafa de Sancerre Blanc

Uma passada rápida em casa e lá fomos os três ver uma exposição sobre canibalismo. Nada melhor do que fazer num domingo de vento e frio, não é mesmo? Se estivesse no Rio, certamente teria ido à Cadeg, ver o chorinho. A exposição abria com uma frase do Claude Lévi-Strauss: "Nous sommes tous des cannibales", frase do grande antropólogo num artigo de 1933. A exposição não era exatamente maravilhosa, mas tinha muita coisa boa, inclusive uma peça da Adriana Varejão que, como sempre, atravessa a nossa alma. Fiz umas poucas fotos. Acho que ainda estou um tanto obnubilado dessa chegada à Paris e da mudança radical de realidade. Gostaria de dormir um pouco mais.


A exposição sobre canibalismo tinha muita coisa interessante

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Parcours commenté


Paris, 19 fevereiro 2011. Choveu o dia inteiro e a temperatura oscilou entre 5 e 7 graus. Acordei bem tarde, depois de passar a primeira noite de Paris com câimbras nas pernas (estou ficando velho!). Me levantei quase 13h. Fiz um brunch com Marta e Lorenzo. Ruben já tinha ido para a TV 5, onde ia trabalhar o dia inteiro até a madrugada (pescoção). Comemos baguettes, três queijos (um de jovem ovelha que parecia um roquefort bem suave, muito bom), café e uma espécie de marmelada feita pela chef da escola de culinária do Lorenzo. Em seguida, eu e Marta fomos comprar um tênis. O meu estava em petição de miséria e todo molhado. Impossível usá-lo aqui. Conseguimos um excelente tênis de montanhismo que, com um pouco de malandragem e desconto, saiu por 20 e poucos euros, em vez dos originais 70 euros...

Depois Marta fez um parcours commenté comigo no Marché D'Aligre, onde vou fazer meu trabalho de campo. Ela já fez várias reportagens sobre o bairro e conhece muitas histórias, além de morar nele e observar a transformação que se dá a olho nu. A foto acima é de um hotel do bairro, com diárias de 70 euros, que se transformou num favelão, onde vivem sem-teto financiados pelo governo (três mil euros por mês) e imigrantes, a maioria magrebinos. O bairro está sendo invadido pelos bobos, o pessoal de classe média, que vem em busca de uma noção de autenticidade que o bairro oferece. Uma diferença para o Rio é que em Paris não se pode derrubar os prédios. Estão todos preservados na fachada. Dentro é outra história. Ao passar o portão, tudo muda.

Uma das ruas do Marché D'Aligre que está passando por um processo de "revitalização": as mudanças são internas porque não se pode mexer na fachada

Andamos umas duas horas pelo bairro e decidi me concentrar nesse campo, que acho que tem mais a ver para fazer uma comparação com Botafogo do que Belleville. Até porque vou ficar pouco tempo em Paris para poder fazer uma etnografia de verdade. Vai ser mais um levantamento. Um mapeamento inicial para ser continuado no futuro.

Demos uma pausa em casa e fomos jantar fora num bistrot típico do bairro, bem francês, chamado Les Bombis, pertinho daqui, na rue de Chaligny. Comi um pato ao molho de chocolate com um tinto, numa pequena extravagância gastronômica. Depois, em casa, conversamos até a volta de Ruben. Mais um tinto antes de dormir, afinal, hoje é sábado. Agora já posso ir dormir e sonhar com minha morena tropical...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Em terras gaulesas

Paris, 18 fevereiro 2010. Véspera tensa, sem grana da bolsaa, bateu a dúvida: viajo ou não. Passagem marcada, mas nem um tostão. E, para remarcar a passagem, multa de US$ 150... Decidi então embarcar com a cara e a coragem. Soraya me emprestou 200 euros para poder chegar até a casa de Marta e Ruben. Liguei o foda-se e decidi ir de quaquer jeito. me levou ao aeroporto e foi ótimo. Batemos um papo descontraído e já amaciado pela conversa musical com Joana, relaxei. Depois, enfim, embarquei. O voo da TAM foi ótimo. Estava vazio, deu pra deitar e dormir profundamente. Se houve turbulência nem senti. Passei sem problemas pela imigração. Mas cometi um erro. Não pus na mochila de mão um casaco. Quando chegamos, a temperatura era de 5 graus, o que me fez bater dentes até recuperar minha mala e pegar um casaco e o cachicol que Denise me deu de presente na véspera. Com meu francês macorrônico e ainda ensolarado, consegui me comunicar o suficiente para descobrir de onde saía o ônibus da Air France rumo à Gare de Lyon. Na verdade, nem precisava, estava tudo bem indicado. Peguei o ônibus (16,50 euros) e cinquenta minutos depois, chegava ao destino. Saí meio perdu, mas me orientei pela memória (a última vez que fizera esse trajeto fora em 20o2) e consegui chegar à casa de Marta e Ruben. Tive problemas com o código da porta, mas consegui, enfim, entrar. Ruben e eu conversamos e acendemos a lareira, esperando por Marta, que chegou seguida de Lorenzo, filho de Ruben. Comemos peixe, com legumes, bem saudável e vinho branco (três garrafas). Agora, consegui plugar o computador na internet e fiz esse post rápido, pra poder dormir. Amanhã é sábado.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Com a cara e a coragem

Rio 17 fevereiro 2011. Descobri hoje, dia de minha partida para a França, que a grana da bolsa só vai entrar na semana que vem! Ou seja, com que roupa eu vou? Soraya vai me emprestar uns euros para poder chegar e pegar um ônibus até a Gare de Lyon e passar o fim de semana até a Capes depositar o dinheiro. A Marta me disse que custa uns 16 euros. O ônibus sai direto do Charles DeGaulle até a Gare de Lyon. De lá, sigo pelo Boulevard Diderot, passo pelos arcos e dois quarteirões depois, estou em frente à casa dela: 22, rue Crozatier. O código da porta já aprendi e sei que a chave fica guardada no vaso de plantas amarelo. Soraya também vai me levar até o Galeão. O voo sai às 23h57, em princípio... Quase adiei tudo, porque não tinha a grana da bolsa. Acho incrível a Capes marcar a passagem sem garantir a bolsa... Enfim, já vi que esse mundo burocrático funciona desse jeito mesmo. Quase adiei novamente a ida, mas para remarcar a passagem, paga-se uma multa de US$ 150! Vou hoje mesmo, com a cara e a coragem.

Recebi Joana e Marcelo para ouvir um som, enquanto aprontava minha mala. Ouvimos muitas coisas legais. Ela ficou com a chave do apê e vai quebrar o meu galho, cuidando das plantas durante minha ausência. Muito legal, ela topar fazer isso, que é um trabalho e tanto. A presença de Joana é cheia de luz, de modo que a casa ficará iluminada quando eu estiver longe. É estranho sair do Rio no carnaval e ainda mais para uma temporada longa. Mas vou pegar a primavera em Paris, April in Paris e coisa e tal.

Bem, preciso lavar louça, arrumar a casa e terminar a mala. Que calor que faz hoje no Rio!

Despedida parte II

Rio, 17 fevereiro 2011. E o bota-fora não tem fim. Depois do Capela, ontem foi a vez de encontrar os goood fellas Zé Octávio, Pedro Tibau e Marcelo Magdaleno Madá, com agregados: Denise Lopes, Alina, Leo Feijó, madame Feijó e Gilberto Borges. Local: Puebla Café, que não tem nada nem de Puebla nem de café, mas tudo bem... Enchemos a lata e a inda pegamos a galera do Escambo, pós-show no Sergio Porto. Estavam todos lá: Thiago Thiago, Lucas Daim, Renato Frazão, André Siqueira, João Saboia, Enrica Bernardelli, Louise, Drica Voivodic e tantos outros...

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mar de prédios

O Cristo, a Pedra da Gávea e a casa da Joana e um mar de prédios: Botafogo

Rio, 16 fevereiro 2011. Chegou, enfim, a passagem. Vôo da TAM JJ 8054, sai do Rio (Galeão, terminal 2) às 23h57, e previsão de chegada em Paris (Charles DeGaulle, terminal 1), às 14h05. Está tudo uma loucura. Ainda não fiz mala, ainda não tinha entrado a grana da bolsa... enfim, grandes emoções! Por isso, vou tomar um chopinho na Cobal com os velhos camaradas José Octávio, Marcelo Magdaleno e Pedro Tibau. Talvez Denise Lopes passe por lá, pra um abraço de despedida.

Previsão da temperatura para amanhã em Paris é de mínima de 2 graus e máxima de 10... Oh vida! Terei que beber um vinho nacional para esquentar o espírito. Aproveito para fazer uma foto da minha janela. Só pra me lembrar o caminho de volta, caso eu seja abduzido pelo selvagens do jacobinismo.

Aproveito para pôr o link do vídeo da despedida na redação do Globo, feito pelo CAT:

http://www.youtube.com/watch?v=aIGudNpWRFQ

No susto

A galera no Capela: cabrito, chope e despedida

Rio, 16 fevereiro 2011. Acordo e pimba! Um susto! Recebi a reserva para a passagem confirmando a ida para Paris no dia 17, amanhã! E não no dia 18, como me havia escrito a coordenadora da Capes. Ou seja, estou embarcando um dia antes! Começou então um corre-corre. Banco, lavar roupa, organizar mala, comprar tênis, me despedir das pessoas... Putz! Preferia ir na sexta, dia 18. Teria tempo para respirar. Bem, vamos em frente.

Ontem, tomei uma cervejinha com Joana. Descobrimos um boteco de esquina muito interessante, à meia luz e com um sonolento proprietário, dono inclusive de uma rotunda barriga. Mas a cerveja estava razoavelmente gelada. Não comemos nada. Estava um vento refrescante, bom para conversar tranquilamente. Adoro Joana!

Corri depois pro Capela, onde vários amigos me aguardavam. No caminho, de táxi, o motorista me apresentou o novo cd do Oswaldo Montenegro, o que só aumentou meu nervosismo pelo atraso. Mas cheguei, enfim, e encontrei Luciana Rodrigues e Lucienne Carneiro já de saída. Tentei convencê-la a uma saideira, mas não rolou. Culpa minha. Flavinho Silveira, Henrique Gomes Batista e o CAT já tinham partido. Mas, no Capela perseveravam: Claudia Santos, André Machado, Jacqueline Donola, Jason Vogel, Julio Cupelo, Antonio Werneck, Martha e Xandó. No fim, ainda entra o Marcelo Moutinho, com uma ex-estagiária do Globo, cujo nome não consigo me lembrar.

Agora é hora de me concentrar na viagem. Paris está na esquina.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

De Malas prontas

Ensaio do Boi tá tá, na rua do mercado, esquentando para o carnaval

Rio, 15 fevereiro 2011. De malas prontas para partir e o coração querendo ficar, querendo ir, o coração vazio, cheio de ar, pensando na morena que fica, pensando no carnaval que vem chegando e eu partindo, pensando no calor do Rio e imaginando o frio de Paris, pensando no futuro incerto, no meu francês ruim. Tão incerto como essa viagem, que não desencanta. Soube hoje que o sedex que enviei à Capes nunca chegou. Paguei R$ 25 pratas num envelope, com meus dados da passagem, do banco etc. E... necas! Nunca chegou. E só fico sabendo disso hoje, a dois dias da viagem. Bem, não tem mais o que fazer, exceto esperar que os dias se desenrolem. Talvez consiga um studio no 5eme, de frente para o Jardin des Plantes... Só 550 euros por mês. Mas não está certo. Certo mesmo é meu endereço de correspondência lá: 22 rue Crozatier, aos cuidados de madame Marta Nascimento. A casa dela será uma espécie de base. Quero logo me matricular na Aliança de lá e já assistir aos seminários do curso de Laurent Thévenot. Ontem, enfim, consegui o visto de pesquisador no consulado da França no Rio. Ainda terei toda uma etapa burocrática em Paris, na Prefeitura de Polícia, exame médico e o escambau. Até a certidão de nascimento eles querem traduzida e juramentada... Ah! a República! Ainda bem que, à noite, fui ao ensaio do Boi tá tá, na rua do Mercado. Fiquei perto dos saxofonistas altos, perto de Joana. Que sonzeira! Depois, Adega da Velha, onde me despedi do Chico e combinei uma cabidela, quando voltar dessa jornada. Já estou de licença no Globo e as horas escorrem sonolentas no mormaço. Tem feito uns 36 graus durante boa parte do dia e, à noite, a temperatura não fica abaixo dos 30 graus... a canícula. Estou desidratado de saudade!

Ouvindo Gato Barbieri, Third World. O disco de cabeceira de Glauber Rocha. Me lembrei de Manduka, cuja biografia gostaria de começar a definir nesta viagem à Paris. Acho que lá terei tempo de investigar os passos dele por lá e escrever, escrever, escrever... de memória, de histórias de ouvir contar.

E agora entra um vento sudoeste, prenunciando chuva. Tempestade de verão, nuvens pretas, banzeiro... Céu azul e cinza, com flocos de algodão. Quando embarcarei? Não sei ainda. E o tempo escorre lento, sonolento, sem fim. E ela vem e me assalta o coração. Leva tudo, não deixa nada. Mesmo sem querer, mesmo sem pedir... Apenas toma o que já é dela, que sempre foi.