sexta-feira, 20 de maio de 2011

Uma volta por Belleville


Paris, 20 maio 2011. Ontem fiz um parcour commenté no Belleville, guiado por meu amigo Augustin Geoltrain, morador do bairro desde a pré-história. Na verdade, conheci seu apartamento no número 30 da rue Belleville, e demos uma volta no quarteirão e isso foi suficiente para ver a problemática do bairro e o acerto de minha decisão de focar minha pesquisa sobre o quartier d’Aligre, que não só se apresenta como um caso mais favorável à comparação com o processo de gentrification em Botafogo, como também não passa por outros fenômenos sociais como Belleville, o que complexificaria muito a pesquisa.

Começamos nosso tour pelo quarteirão pela rue de Belleville, totalmente transformada em chinatown, com uma presença chinesa ainda mais conspícua do que na Place d’Italie, o reduto tradicional dos asiáticos em Paris. Augustin reclamou muito do uso das calçadas pelos chineses, bloqueando a passagem para descarregar suas mercadorias e uma ocupação que ignora a convivialidade com os demais residentes do bairro. Sob seu prédio está a livraria de Xavier, a quem fui apresentado, e se mostrou uma pessoa bem amável (que tentação, entrar ali).



Entramos em seguida na rue de Tourtille e, depois, na rue Lesage, onde encontramos vários moradores antigos, conhecidos de Augustin, inclusive Edouard, que parece um personagem da Nouvelle Vague. Falamos com todos e ele me apresentou como un chercheur brésilien, étudient du professeur Mello, que todos conhecem muito bem. Esse pedaço está todo sendo renovado e ocupado por bobôs, a quem os moradores antigo vêem com olhos desconfiados. Segundo Augustin, a mulher que comprou seu antigo apartamento, no número 10 da rue Lesage, sequer lhe dá bom dia, quando cruzam pelas ruas do bairro. Ali também há uma forte comunidade judaica, com sinagoga e açougues kosher.

Em seguida, entramos na rue Ramponeau e tudo se transformou. Foi a mesma sensação que tinha em Nova York, quando, ao dobrar uma esquina, entrava em outro espaço físico e moral, como do Chinatown para o Little Italy. A mudança é visível e nos bate na cara. A rue Ramponeau, nesse trecho, é uma pequena África. É lá que fica o Foyer Africaine e a imagem é de cinema, com grupo de jovens ouvindo rap e passando o dia na rua. Há tráfico de drogas e essa é uma das poucas áreas de Paris que, para fotografar, tem tomar cuidado. Mais acima, em outra quadra, há prostituição de chinesas de meia idade. Mas, ao mesmo tempo, é muito tranqüilo passar por lá. Ninguém te aborda ou mexe com você. Me lembrou a Lapa.



Mais adiante, entramos na rue Dénoyez, uma rua cheia de pequenos ateliês e cafés, com todos os imóveis grafitados. A sensação é que entramos numa grande história em quadrinhos. Ali também fica a piscina pública e academia, uma belíssima idéia, que alguns rejeitam, pois não conseguem conceber tantas tribos distintas compartilhando a mesma água.

Por fim terminamos no bistrot Au Vieux Saumur, onde eu matei duas Leffes, para não perder a mania e jogamos fora uma boa meia hora de conversa fiada. Esse bistrot fica ao lado de outro que já tinha ido com Marta também muito bom, chamado Les Folies (adoraria fazer um Paris Botequim). Bem, fiquei de voltar lá com outra pesquisadora, Laura Graziela, e dessa vez com câmera. Fico devendo fotos de Belleville, mas aproveito para publicar outras do bairro, que fiz em outra parte (o bairro é imenso). À bientôt!

2 comentários:

  1. Paulinho, é um crime contra a humanidade eu não estar aí com vocês !!!! Encontrando novamente Edouard, diga que lhe mandei um beijo estalado. Se vira para dar o recado em francês, mon ami. :)
    Ou então vá pela via mais fácil: tasque um beijão nele em meu nome !

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  2. Que figura sensacional o Edouard. Ele disse que pareço bem com um estudante do Mello, e falou num tom de elogio... E o Augustin me parece muito bem também, com humor bem francês e ao mesmo tempo bem pessoal. Vou voltar lá mais vezes!

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