domingo, 17 de abril de 2011

Comptoir Générale

O bar lounge do Comptoir Générale, sofas, poltronas e cadeiras num ambiente com decoração meio africana

Paris, 17 abril 2011. É impressionante como os franceses têm na alma uma vocação republicana. Em cada centro de bairro há organizações, associações, ONGs e sede de partidos políticos ou outros pontos de encontro, onde tramam manifestações, reivindicações, encontros de integração e coisa e tal. É mais impressionante ainda a participação de jovens e, mesmo, de um tipo de jovem, que se veste meio alternativamente, cabelos rastafári, com dreadlocks, piercings, tatuagens, defensores de uma vida alternativa em relação à globalização, ao consumo compulsivo, por uma alimentação mais saudável etc.

Detalhe da decoração kitsch e que dá um clima de brechó

Ou seja, me lembra um pouco os movimentos estudantis dos anos 60 e 70, quando se juntava à agenda de transformação política revolucionária, pleitos como amor livre, ecologia e coisa e tal. Talvez seja mesmo uma continuação, em que essas questões existenciais, antes relegadas a segundo plano em nome da revolução socialista, ganham um papel protagonista. E as lutas são focadas em questões locais e localizadas, em vez de grandes transformações globais.

Marta e Ruben me apresentaram ontem a um lugar muito interessante, no 10ème quartier, Trata-se do Comptoir Générale, uma espécie de centro cultural, sala de reuniões e exposições, com bar lounge. É um lugar caindo aos pedaços, mas com muito charme e com produtos de origem natural. Ontem, por exemplo, estava rolando uma reunião do Partido Verde, ou coisa que o valha. Havia ainda uma exposição sobre bruxaria e, no salão do bar, que parecia um brechó, várias poltronas, cadeiras velhas sobre um chão de ladrilhos desgastados, onde as pessoas se instalavam confortavelmente com seus drinques e petiscos.

No mesmo lugar, mas em outra sala, uma exposição sobre bruxaria

Antes, havia passado em outro quartier, que passa por uma revitalização acelerada, com renovação de prédios e gentrification. Era um lugar meio barra pesada, com tráfico de drogas e uma certa marginalidade para os padrões parisienses. Hoje, está mais bobotizado, com pessoas andando de bicicleta e participando de eventos comunitários. Ontem, por exemplo, foi uma série de shows com bandas locais (muitos rastas), enquanto na pracinha (Saint-Marthe) havia troca de CDs e comida caseira.

Retrato deste pesquisador entre os nativos feito por Marta. No fundo, mais da exposição sobre bruxaria

Acho que, para o parisiense, é uma forma de pertencer ao bairro, à cidade, enfim, mas, ao mesmo tempo, de se posicionar globalmente contra a globalização. Há uma energia interessante nessa integração, como seria de se esperar. As pessoas flertam, se conhecem, namoram, fazem soirées, jantares, bares. A boemia se mescla a um tipo especial e original de mobilização. Enquanto isso, os partidos tradicionais, como o PS, continuam panfletando nas bocas das estações de metrô e fazendo manifestações com o caixão do FMI.

O bairro do 10ème num sábado de sol: as pessoas se sentam à beira do canal Saint-Mathe, et voilà!

Bem, para encerrar, hoje, domingão de sol, o mercado d’Aligre bombou. Tomei meu café da manhã no Penty, depois de ter feito novas fotografias do mercado. Essa semana vou pretendo dividir meu tempo de pesquisa com o Le Penty e a Commune Libre d’Aligre. Vamos ver. À bientôt!

2 comentários:

  1. Realmente essa vida comunitária de Paris é invejável.

    No meu bairro, a Ilha do Governador, participo de algumas atividades, como a encenação da Paixão de Cristo na qual interpretarei Barrabás (apesar de ser ateu e achar a religião um câncer) e o movimento contra a instalação do terminal pesqueiro.

    Será que um dia retomaremos nossa gana comunitária e faremos atividades do tipo por aqui?

    Norton.

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  2. Espero que sim, Norton. Essas mobilizações têm se mostrado extremamente eficazes no nível de questões locais, pois o Poder público quase nunca se preocupa em consultar os moradores dos bairros sobre intervenções que pretendem fazer. É preciso, então, dizer a eles, se mobilizando! Abs!

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