domingo, 10 de abril de 2011

Le Penty, meu boteco n'Aligre

Grafiti na rue de Butte aux Cailles, zona boêmia próxima à Place d'Italie

Paris, 10 abril 2011. Os últimos dias foram de trabalho duro na pesquisa. Estive pelo menos o tempo de um café todos os dias desta semana no Le Penty ou circulando pelo mercado d’Aligre. Fiz muitas anotações de observação direta, para entrar na fase de entrevistas, que reforçarão a pesquisa bibliográfica. Semana que vem começo a freqüentar também a Commune Libre d’Aligre, que tem eventos sociais e comunitários todos os dias. Enquanto isso, vou me integrando à paisagem e Paris cada vez mais, e a cidade vai deixando de ser “estranha”. Mas, ao mesmo tempo, sem perder o encantamento.

Algumas coisas, no entanto, me incomodam. Como a cidade é bem mais silenciosa que o Rio, o barulho das sirenes de ambulâncias e polícias é insuportável. E aqui eles usam as sirenes como buzina. O tempo todo passa uma ambulância ou uma viatura da polícia, perturbando a paz. Também aqui, como no Rio, há aqueles sujeitos que dão vazão ao excesso de testosterona pelo escapamento aberto das motocicletas; ou aqueles outros que urinam nas calçadas. Outros dois itens na minha lista de coisas que incomodam em Paris é a falta de relógios nas ruas (com exceção de algumas farmácias e no metrô) e a dificuldade de obter guardanapo quando se come nos bares e restaurantes (ando com os bolsos cheios deles).

Bem, mas voltando à vaca fria, na quinta-feira, Claudinha, uma colega de redação do Globo chegou de férias do Rio, a caminho da Turquia. Ela ficará uns dias em Paris antes de seguir para Istambul, e nós nos encontramos para uma cerveja no Café de L’Industrie, depois de meu curso de francês. Botamos o papo em dia e ela me deu boas notícias sobre o estado de saúde de um colega, que passou por uma longa e difícil cirurgia. Sua recuperação foi considerada miraculosa pelos médicos.

A parte externa do mercado d'Aligre, onde ficam os antiguarios. No Centro, a casinha com relógio, que marca o antigo orfanato e o mercado fechado (Beauvau), erguido em 1779

Na sexta-feira, fui ver três exposições com Ruben no museu do Jardin de Tulleries, todas bastante conceituais, mas nada muito interessante. Depois caminhamos pela região do Louvre, vimos algumas lojas bem burguesas e demos uma longa vuelta de perro, antes de nos encontrarmos com Marta para uma cerveja no Penty. Já havia passado boa parte da manhã no bar e voltar à tarde deu um bom contraste. De manhã, as pessoas comiam as opções do menu da casa (croque monsieur, croque madame, com ou sem salada, ou omelete) e, à tarde, tomavam uma cervejinha acompanhando o ritmo da rua. Paris é especialmente linda quando faz sol. Além disso, a temperatura está quente, mas quente como, digamos, Friburgo, uns 23 graus.

À noite, jantei no Le Temps des Cerises (que é do lado de casa, na Place d’Italie) em homenagem à Soraya, que é fã do lugar. De fato muito bom. Um bistrot anarquista, onde funcionava uma cooperativa de trabalhadores (Société Coopérative Ouvrière de Production). Os pratos são fartos e copieuses, um tipo de generosidade meio rara em Paris. A região de Butte-aux-Cailles estava fervilhando de gente. Também, era uma sexta-feira sem chuva e com a temperatura em torno dos 20 e tantos graus. Parecia o Baixo Leblon dos anos 80, com levas de pessoas para cima e para baixo, circulando entre os bistrots. E é uma região bem menos turística do que, por exemplo, a Bastille.

Mais uma foto da parte interna do Le Penty, meu boteco preferido no quartier d'Aligre

Sábado apresentei o mercado à Claudinha. Circulamos na parte fechada (Beauvau) e ela fotografou a stand de frutas e flores, que realmente fazem uma bela paisagem. Depois circulamos pelo lado de fora. Mostrei os cafés e acabamos no Baron Rouge que, milagrosamente, não estava lotado. O Baron é como o Jobi. Mas é um bar à vin, onde se degustam vinhos e beliscam petiscos como vários tipos de presunto, salaminhos e queijos. O pessoal que atende é muito simpático e sugerem harmonizações se o cliente quiser. É um lugar realmente para degustar e não é caro. Cada um de nós tomou duas taças e repartimos uma tábua de queijos e frios e a conta deu menos de 20 euros. À tarde ainda voltei ao Penty para um café e fiz mais anotações.

Hoje, amanheci às 6h30 para ir ao mercado ainda na preparação. Queria ter uma idéia dos ciclos do Marché d’Aligre, como funciona a feira, a parte de antiguidades e roupas e o mercado fechado, assim como os cafés. Vi onde os comerciantes guardam suas caixas e como funciona o sistema de limpeza, após o fim do mercado. Também vi trabalhadores temporários, todos magrebinos, que aproveitam a feira para carregar e descarregar caixas e ganhar uns trocados. Tomei um café às 7h e pouco no Kofe, onde todos falavam árabe e se cumprimentavam ao modo islâmico: salam aleikum! E mais outro expresso no Penty, onde estavam velhos moradores do bairro, todos franceses.

Agora, são quase 1h da tarde. Estou fazendo esse post, vou almoçar alguma coisa e volto para o meu quartier prefere para anotar. A bientôt!

2 comentários:

  1. Oi, Paulo. Sempre bom ler seus textos.
    Em julho vou ao Penty tomar uma cerveja em sua homenagem. Pena que vc não vai estar mais para irmos juntos...
    Aí em Paris tem umas máquinas nas ruas com um "P" em azul que servem para pagar e obter o tíquete de estacionamento. Elas têm um relógio. Como nunca gostei de relógios de pulso, também me incomodava a falta de relógios nas ruas. Mas esses "horodateurs" salvam... eheheh Tem em todo lugar.
    Beijos! Cris
    PS-olha a foto do dito cujo... http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://babydoll.hautetfort.com/media/01/00/5a30d955ea2394215e6142e2b632312e.jpg&imgrefurl=http://babydoll.hautetfort.com/archive/2007/10/11/votre-horodateur-a-refuse-mon-cheque.html&usg=__ExGYG3t_3rLsQ4FtXq1FzY3uUP8=&h=450&w=300&sz=30&hl=pt-BR&start=0&zoom=1&tbnid=KauKOPJQI0RzhM:&tbnh=121&tbnw=88&ei=Nr2hTaWwHu-L0QGFlPSPBQ&prev=/search%3Fq%3Dhorodateur%26hl%3Dpt-BR%26client%3Dfirefox-a%26hs%3Dyjb%26sa%3DX%26rls%3Dorg.mozilla:pt-BR:official%26biw%3D1335%26bih%3D677%26tbm%3Disch%26prmd%3Divns&itbs=1&iact=hc&vpx=572&vpy=36&dur=4246&hovh=275&hovw=183&tx=86&ty=214&oei=Nr2hTaWwHu-L0QGFlPSPBQ&page=1&ndsp=38&ved=1t:429,r:4,s:0

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  2. Oi Cris, valeu pela dica! Isso é que me deixa meio desnorteado porque também não uso relógio e aqui estou sem celular.

    É pena que não vamos nos cruzar por aqui. Mas beba uma cerveja no Penty por mim. Bjs.

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