sábado, 16 de abril de 2011

La Commune Libre d'Aligre

O jardim comunitário d'Aligre: de uma área abandonada, um parquinho entre os prédios do 12ème

Paris, 16 abril 2011. E a fase dois da pesquisa começa. Após um período de observação direta, chegou a hora de ensaiar uma observação participante. No próximo sábado vou trabalhar ajudando a servir o jantar comunitário da Commune Libre d’Aligre, uma das organizações representativas do bairro, que tem uma linhagem anarquista, à qual me integrei, pagando uma anuidade de 5 euros. Eles têm uma série de atividades, como palestras do pessoal do ATTAC (aquele grupo que luta para taxas as operações financeiras dos bancos e reverter esse imposto em bem-estar social), jantares comunitários, cinema com debate, ateliês de costura e gastronômicos (ou outros cursos que alguém invente).

Eles são bastante atuantes no bairro. Por exemplo, transformaram uma rua abandonada num parquinho com jardim comunitário. Qualquer pessoa do grupo pode plantar suas hortaliças no jardim e todos são responsáveis por sua manutenção. Mas as sementes e material têm que ser bio, isto é, com certificado de origem e coisa e tal. É o tipo de atividade e organização que gostaria de ver em Botafogo. Também têm um café da associação, onde se pode ir o dia inteiro e jogar conversa fora.

Jojo, o patron do Le Penty, e Berengere, sua filha, clima de botequim

Ontem, para variar, fui ao Penty, onde fiz uma foto do patron, Jojo (pronuncia-se Juju), e sua filha. Com uma presença diária no bar, não tem como não se integrar. Um dos habitués veio me mostrar cédulas de dinheiro marroquino. O sujeito está um pouco lelé-da-cuca, para usar uma expressão da minha avó, mas é muito simpático. As cédulas reproduziam mesquitas e tinham aqueles arabescos interessantes, mas, sinceramente, não entendi muito por que o sujeito veio me mostrar aquelas notas amassadas.

Após um dia bastante produtivo, fui a um jantar na casa de Nathalie e Christian com Ruben e Marta. Lá, encontramos um casal de portugueses, Eduardo e Helena, amigos da galera, e Idriss Diabaté, o cineasta da Costa do Marfim que conheci no Rio, no ano passado, durante o festival de cinema negro. Ele foi com a mulher. Idriss é uma figura e muito simpático e além de cineasta, dá aula na universidade. Ele acaba de voltar da Abdjam, onde fez relatos impressionantes da violência política, com a queda de Laurent Gbagbo, preso no último dia 11.

A coisa anda bem feia por aqueles lados. Ele disse que ficou impressionado como as pessoas passam por cima dos cadáveres nas áreas de maior conflito sem se incomodar. Só se preocupam quando a violência atinge suas famílias, linhagens ou etnias. A morte em massa dos outros não despertam muita reação. Idriss vem do Norte da Costa do Marfim, e a linhagem Diabaté é conhecida como de contadores de histórias (há muitos escritores, músicos e, no caso de Idriss, cineastas).

Idriss e eu, no jantar na casa de Nathalie e Christian: boa conversa, excesso de vinho

De qualquer modo, o jantar foi, mais uma vez, uma orgia gastronômica e um excesso de vinhos. Toda vez que vou à casa de Nathalie e Christian exagero no vinho. No fim, é ruim, pois já não dá nem mesmo para degustar as sutilizes dos sabores e perfumes, é mais uma coisa de beber compulsivamente, em torno de uma boa conversa.

Bem, agora me preparo para ir ao mercado. À bientôt!

2 comentários:

  1. Aqui no Reino Unido também lutamos para um imposto sobre operações financeiras entre bancos – chamamos-o de Robin Hood Tax. Reparei que você usou a termo taxa em vez de imposto. Será que isso é um pouco de anglofilia?

    ResponderExcluir
  2. Pode ser. No Globo, usamos o verbo taxar (não confundir com tachar: pôr tacha em alguém: "tachou-o de louco"), mas não sei se já está dicionarizado, porque o Globo não tem problema como anglicismos ou formas orais e estrangeiras de expressão.

    ResponderExcluir