quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ainda o estrangeiro

Esta foto é de 2002, quando estive aqui pela última vez e encontrei com minha colega do Globo Flavia Barbosa

Paris, 24 fevereiro 2011. Essa viagem me traz momentos de evocação de outros tempos, com a força de um encantamento. As imagens do passado chegam com tremenda força e se impõe a ponto de me distrair das situações. Depois dos queijos e vinhos do almoço, mergulhei em leituras e estudos. A casa estava quieta e é incrível como Paris é bem menos barulhenta que o Rio. Avancei na leitura crítica dos estruturalistas, muito esclarecedor, sobretudo para minha geração. Depois Marta, Ruben e Lorenzo chegaram e comemos uma pasta com legumes à base de um azeite de nós do Marrocos com um tinto de Turenne e o resto dos queijos. Exagerei.

E, agora, que cada um foi se recolhendo, me vejo aqui na sala, escrevendo no computador, ouvindo a Fip, uma rádio sensacional, que toca de tudo (de clássico a rock’n’roll, a bossa nova e música africana). Me bateram umas lembranças do período em que vivi em Nova York, no século XIV. Não sei bem explicar, é tudo meio confuso e difuso. São sensações mais do que lembranças concretas de algo. Apenas sei que já senti isso antes. Essa coisa do estrangeiro, de estar fora do país, cheio de possibilidades e ao mesmo tempo sem ainda pertencer totalmente ao lugar.

Também tenho lembrado muito das últimas vezes em que estive em Paris, 95,96 e 2002... Muita coisa mudou na cidade e nada mudou ao mesmo tempo. Tenho outra cabeça e estou aqui numa circunstância muito distinta daquelas de Nova York e Paris do passado. Perceber isso me dá uma dimensão de maturidade que é simultaneamente libertador e assustador. Libertador porque me sinto no auge da minha capacidade de viver essa experiência e assustador porque tudo pode acontecer.

Também me dou conta de como me tornei um carioca depois de tanto tempo vivendo nessa cidade maluca. Gosto do Rio de Janeiro, da sua luz, do seu calor. De poder mergulhar no mar à noite e assistir um ensaio do Boitatá na rua do Mercado, por exemplo. Acho que no fundo nunca quis morar fora dali. Cheguei mesmo a devolver o greencard no consulado americano, para espanto do agente consular. Acho que é isso que me permite circular por aqui curtindo as coisas, mas sem achar que estou numa civilização superior.

Estou curioso da reunião de casamento no sábado, quando virão umas 15 pessoas traçar o leitão encomendado outro dia. Estou querendo reencontrar algumas delas e conhecer outras. De qualquer modo, tão logo arranje a questão de banco, pretendo me mandar pra um estudiozinho aqui por Paris mesmo, onde poderei me concentrar ainda mais no trabalho de campo. Falando nisso, descobri que os africanos da esquina do mercado d’Aligre são militantes do movimento dos sans papier, os imigrantes ilegais que estão enfrentando uma dura das novas políticas de Sarkozy.

Bem, chega. Vou dormir. No Rio, a noite ainda desponta, mas aqui já é quase meia-noite.

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