terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

De Malas prontas

Ensaio do Boi tá tá, na rua do mercado, esquentando para o carnaval

Rio, 15 fevereiro 2011. De malas prontas para partir e o coração querendo ficar, querendo ir, o coração vazio, cheio de ar, pensando na morena que fica, pensando no carnaval que vem chegando e eu partindo, pensando no calor do Rio e imaginando o frio de Paris, pensando no futuro incerto, no meu francês ruim. Tão incerto como essa viagem, que não desencanta. Soube hoje que o sedex que enviei à Capes nunca chegou. Paguei R$ 25 pratas num envelope, com meus dados da passagem, do banco etc. E... necas! Nunca chegou. E só fico sabendo disso hoje, a dois dias da viagem. Bem, não tem mais o que fazer, exceto esperar que os dias se desenrolem. Talvez consiga um studio no 5eme, de frente para o Jardin des Plantes... Só 550 euros por mês. Mas não está certo. Certo mesmo é meu endereço de correspondência lá: 22 rue Crozatier, aos cuidados de madame Marta Nascimento. A casa dela será uma espécie de base. Quero logo me matricular na Aliança de lá e já assistir aos seminários do curso de Laurent Thévenot. Ontem, enfim, consegui o visto de pesquisador no consulado da França no Rio. Ainda terei toda uma etapa burocrática em Paris, na Prefeitura de Polícia, exame médico e o escambau. Até a certidão de nascimento eles querem traduzida e juramentada... Ah! a República! Ainda bem que, à noite, fui ao ensaio do Boi tá tá, na rua do Mercado. Fiquei perto dos saxofonistas altos, perto de Joana. Que sonzeira! Depois, Adega da Velha, onde me despedi do Chico e combinei uma cabidela, quando voltar dessa jornada. Já estou de licença no Globo e as horas escorrem sonolentas no mormaço. Tem feito uns 36 graus durante boa parte do dia e, à noite, a temperatura não fica abaixo dos 30 graus... a canícula. Estou desidratado de saudade!

Ouvindo Gato Barbieri, Third World. O disco de cabeceira de Glauber Rocha. Me lembrei de Manduka, cuja biografia gostaria de começar a definir nesta viagem à Paris. Acho que lá terei tempo de investigar os passos dele por lá e escrever, escrever, escrever... de memória, de histórias de ouvir contar.

E agora entra um vento sudoeste, prenunciando chuva. Tempestade de verão, nuvens pretas, banzeiro... Céu azul e cinza, com flocos de algodão. Quando embarcarei? Não sei ainda. E o tempo escorre lento, sonolento, sem fim. E ela vem e me assalta o coração. Leva tudo, não deixa nada. Mesmo sem querer, mesmo sem pedir... Apenas toma o que já é dela, que sempre foi.

2 comentários:

  1. Tentarei acompanhar esta odisséia, meu caro. Vai com Deus e mostra pra França (mais especificamente pras francesas), o que é um carioca ;-)

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  2. Vou tentar, caríssimo Xandó! Valeu, mano véio!

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