domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ostras, vinho, frios e canibalismo

Feira de alimentos e de antiguidades do lado de fora do mercado

Paris, 20 fevereiro 2011. Temperatura 7 graus, tempo nublado. A sensação de frio foi pior porque está ventando. Ontem choveu, hoje ventou. Mas mesmo assim fiz um pouco de campo. Fui ao Marché D'Aligre com Marta e Ruben comprar um mignon para amanhã e uns peixinhos para hoje. Enquanto os dois compravam as coisas, eu circulei, fiz timidamente umas fotos do mercado, que está sob pressão para fechar mais dias. Ele abre todos os dias, exceto às segunda-feiras. E os comerciantes estao passando um abaixo-assinado para manter as coisas, com o argumento de que o mercado tem 200 anos e não pode ser modificado. Já é parte do conflito entre aqueles que querem revitalizar e modernizar e os que defendem uma idéia de autenticidade.

Depois de circular pelas barracas internas e externas do mercado, especializadas em todo tipo de comida. Achei uma barraca só de queijos, uma variedade enorme, outra de carnes de caça, aves, porcos, havia uma portuguesa, com bacalhau e outra só de azeites. Fantástico! Depois fomos ao Baron Rouge. um bar quase de esquina, que fica lotado, e lembra o Bracarense dos bons tempos. Estava muito cheio, então fomos em outro. Sentamos na calçada em pleno frio e pedimos um vinha branco de Sancerre, que harmonizava bem com as ostras e a tábua de frios que pedimos. Uma delícia, sobretudo um patê do campo, que tinha várias coisas. Conversamos sobre muitas coisas do bairro e como se faz o foie gras... um papo francês. Em dad0 momento, veio um cigano, agressivamente, pedir comida, quase enfiando a mão. O clima com os ciganos aqui está bem pesado e eles são agressivos também. Mandamos pastar.

Depois vimos a feira ser desmontada e pegamos várias verduras que seria jogadas fora. Soube que há um movimento contra o desperdício de comida no fim das feiras, em que se acusa os europeus de jogar comida fora. E muitas pessoas conscientes vêm à xepa pegar verduras, frutas e legumes que, de outro modo, seriam jogados fora. Trouxemos uma caixa de uma folhinha verde, que não tenho a menor idéia do que seja. Durante o momento em que circulei pelo mercado D'Aligre, ouvi muito árabe e vi claramente a mistura de moradores de origem magrebina e os bobos (bourgeois-bohème), os novos moradores de classe média alta que estão "invadindo" a região. Me lembrei muito de Botafogo.

Ostras, frios, pão e uma meia garrafa de Sancerre Blanc

Uma passada rápida em casa e lá fomos os três ver uma exposição sobre canibalismo. Nada melhor do que fazer num domingo de vento e frio, não é mesmo? Se estivesse no Rio, certamente teria ido à Cadeg, ver o chorinho. A exposição abria com uma frase do Claude Lévi-Strauss: "Nous sommes tous des cannibales", frase do grande antropólogo num artigo de 1933. A exposição não era exatamente maravilhosa, mas tinha muita coisa boa, inclusive uma peça da Adriana Varejão que, como sempre, atravessa a nossa alma. Fiz umas poucas fotos. Acho que ainda estou um tanto obnubilado dessa chegada à Paris e da mudança radical de realidade. Gostaria de dormir um pouco mais.


A exposição sobre canibalismo tinha muita coisa interessante

2 comentários:

  1. Paulinho, sobre a xepa, veja o filme "les glaneurs et la glaneuse", da AgnÈs Varda. Fiz um rápido passeio contigo. Você está mui bien, mon cher ami ! Hoje passeei no domingo ensolarado pelo Rio: almoço em Copa, sorvete no Forte e café no cais atrás do Santos Dumont, vendo os transatlânticos e os aviões partirem pela barra da baía. Penso em ti, chéri ! bisessss.

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  2. Minha Ips, atualizei o Pendura com uns dados sobre o Marché D'Aligre. Acho que dará um bom contraste com Botafogo. É muita informação. Fico com medo de esquecer as coisas que vejo e sinto. Hoje está fazendo um solzinho furreco, meio nublado e frio intenso. Mas vou com Ruben num restaurante coreano que é uma espécie de armazém. Marta está trabalhando em Versalhes e Lorenzo, na escola de gastronomia. Nem me aventuro na cozinha aqui. Só tem especialista... Tenho que me apresentar o Thévenot, encontrar apartamento, resolver pendências, esperar pela grana da bolsa... ai, ai.. ó vida! Me deu saudade do Rio o seu passeio. Beijo.

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