sexta-feira, 11 de março de 2011

Ne vous inquiétez pas, monsieur!

Minha Leffe de alto teor alcoólico e sabor encorpado no Café de l'Industrie

Paris, 11 março 2011. Ontem, conheci o apartamento de Colette Pétonnet. Para quem não a conhece, essa senhora de quase 90 anos escreveu um clássico da antropologia urbana francesa, L’observation flottante, que trata da prática etnográfica de flanar pela cidade. Eu a conheci no Rio, no ano passado, quando ela participou do Colóquio sobre os 50 anos do primeiro estudo sistemático sobre favelas, dirigido pelo professor José Arthur Rios. O evento foi organizado pelo Laboratório de Etnografia Metropolitana (LeMetro), do IFCS/UFRJ, coordenado por Marco Antonio da Silva Mello e do qual sou pesquisador. Do evento sairá agora um livro e precisávamos de um documento de autorização de Colette para usar seu texto e fotos. Tarefa que acabou na minha conta.

O apartamento de Colette fica numa passagem perto da faubourg Saint Antoine, a Passage de la main d’or. Essas passagens antigas, que se dão entre prédios, são um charme. Parece que a gente sai da cidade. Seu escritório é, como eu imaginava, repleto de livros. Mas tudo me pareceu organizado e em seu lugar. Dá para imaginar alguém trabalhando ali. Ela divide a casa com uma psicanalista, de linha freudiana, muito simpática. Batemos um papinho rápido. Infelizmente, Colette estava se recuperando de uma cirurgia à la campagne e não pude conversar com ela.

Depois, fui de metrô à Alliance e, de novo, uma série de personagens interessantes e assustadores. São uma espécie de espectro, errando pelos trens, pedindo dinheiro, clamando por atenção e sei lá mais o quê. Primeiro foi um clarinetista, que levava um amplificador com a gravação de várias canções, apenas a harmonia, e ele fazia a melodia e depois improvisava, com uma técnica realmente virtuosa. Fiquei impressionado a ponto de dar 2 euros para felicidade do sujeito.

No segundo trem (a mesma linha em que embarcou a menina deprimida com o cachorrinho outro dia), tinha um americano, gritando com a voz de bêbado: “Fuck! No more French. Let’s speak English, american English!”. E os franceses fazendo a egípcia, lendo suas edições do Le Monde, Libé e coisa e tal. Não era com eles. Pois foi o cara descer e, na mesma estação, entrou outro. Um francês, com a cara enfezada, dizendo que tem 35 anos, está desempregado e não consegue trabalho. Pediu ajuda, mas de um jeito um tanto agressivo. Um rapaz à minha frente, deu umas moedas e reparei que todo mundo olhou, reprovando.

A ambiência do bar muda completamente entre o dia e a noite. Quando escurece, eles reduzem a luz e há uma troca de turno de garçonetes

Cheguei enfim à Alliance, onde tivemos três horas de aula intensiva. O tema do dia foi preparar o menu de um jantar. Ou seja, um tema bem francês! E eu que só estava com o café da manhã, sai da aula com uma fome de cão sem dono. Achei um pequeno bistrot chinês e pedi um menu de 13 euros. Depois, com o estômago forrado, fui para a Bastille, onde havia combinado uma cerveja com Vivi Fernandes, uma amiga brasileira que está de passagem por Paris, rumo à Alemanha. Como não tinha o seu telefone, marquei a cerveja por email, e fui pra lá sem saber se ela teria recebido ou não a mensagem. E, claro, ela só leu depois, à noite.

De qualquer modo, curti umas duas horas ali no Café de l’Industrie, degustando uma Leffe ruiva. Fiz anotações, escrevi cartas, li e fotografei (vejam as fotos acima) o bar. Acho que já mencionei, mas vale repetir: as garçonetes do Industrie parecem modelos, desfilando num evento ambientado em um bar ou coisa que o valha. Uma lourinha, muito simpática e sorridente foi pegar algo bem ao lado da minha mesa, justo na hora em que eu estava concentrado escrevendo. Olhei para ela com um ar de surpresa e ela mandou:

“Ne vous inquiétez pas, monsieur!”

Encantado com sua beleza, respondi sem pensar:

“Çá c’est impossible!”

Ela sorriu. E eu também, feliz por ter feiro o que me pareceu um galanteio em francês, em Paris, sem ter recebido uma resposta mau-humorada, se é que ela entendeu a brincadeira, mas acho que pelo menos intuiu. Hoje, volto lá, para almoçar com Vivi. Agora, com o rendez-vous devidamente marcado.

À noite eu, Marta e Ruben vamos a um jantar na casa de Nathalie et Christian. Não sei qual é o menu.

A bientôt!

2 comentários:

  1. Paulinho, você, um apaixonado por mulheres, sempre encontrará a palavra certa para um galanteio, seja em francês, alemão ou mandarim! Nunca vi alguém mais amante de mulheres do que tu, tatú! Adorei também o tema da aula na Alliance. Você já entendeu tudo, pelo o que estou entendendo...

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  2. Ai, ai.. Ips, como diz o Geraldinho Carneiro, mulheres são alucinações do espírito... Eu concordo: insuportavelmente maravilhosas! Venha pra cá! Vamos tomar um café na esquina! Beijo...

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