quinta-feira, 17 de março de 2011

Dia cheio em Paris

Uma das peças da exposição sobre canibalismo

Paris, 16 março 2011. Dia cheio hoje. Pela manhã saí de casa e fui a pé à Maison Rouge, na Bastille, para rever a exposição sobre canibalismo e fotografar algumas das peças. Combinei com a editora do Segundo Caderno do Globo, Isabel de Luca, uma matéria para hoje. O texto já está praticamente pronto, mas faltavam as fotos. Cheguei à exposição logo depois que o centro cultural abriu e necas. É preciso uma autorização para fotografar. Tem que enviar um email para a coordenadora de imprensa da Maison. De qualquer modo, revi a exposição e pude apreciá-la melhor do que a primeira vez, quando a casa esteve lotada. Conversei com a Bel, que por coincidência está vindo à Paris na próxima semana, por telefone e combinamos para a semana que vem. Até lá, já devo ter obtido a tal autorização.

Entre as peças que estão na exposição, a que mais me chamou a atenção foram os ladrilhos de Adriana Varejão. Sou fã dessa mulher, por sua arte visceral e sensual. Acho que ela encarna mesmo uma linguagem estética inovadora e original. Outro brasileiro presente na exposição é Vik Muniz, que fez uma fotografia enorme, representando Saturno devorando um de seus filhos (2005), a partir do lixo e entulhos recolhidos por crianças de favela. Muito interessante, sobretudo porque ele faz um diálogo com Francisco de Goya, que tem umas gravuras impressionantes sobre canibalismo, com títulos poéticos, como: O sonho da razão produz monstros; e uma série chamada singelamente de Caprichos. Mas é o trabalho de Adriana que me pega, literalmente, pelas vísceras.

Loja de trajes muçulmanos no Belleville, apesar da proibição do véu na França

Saí da exposição decepcionado por não ter conseguido fazer as fotos, mas com uma fome, como convém ao tema. Fui, então, almoçar no Café de L’Industrie, para variar um pouco. Pedi o que eles chamam aqui de formule, ou menu, que é um pacote, que inclui entrada (normalmente uma salada), prato principal (hoje era uma costela de porco com espagueti ao molho de manteiga e champignons; e sobremesa (no caso um gateau au chocolat). Tudo isso por 10 euros. Mas caí na besteira de pedir ainda uma Perrier e um café e a conta saltou para 15 euros! Francamente...

Barriga forrada, parti rumo à École, para, enfim, dar entrada no cartão da biblioteca das Sciences Pol. Não deu certo também. Para encurtar a história, a mulher responsável pelo processo de acolhimento dos pesquisadores brasileiros já tinha ido embora. Culpa minha, que não marcou a hora. Afinal, estou na França. Mas a boa notícia foi que, enfim, a grana da Capes pingou na conta. Não estou rico, mas pude comprar mais alguns livros, inclusive o de Soraya Silveria Simões: Histoire et ethnographie d’une cite de Rio: La Cruzada São Sebastião. Pois é, a tese de doutorado da saiu primeiro em francês. Não é pra qualquer um.

Ainda voltei à Bastille para uma cerveja e poder folhear os livros comprados. Para variar tomei uma Leffe e depois um café. Depois passei no supermercado e comprei umas besteiras para a casa de Marta e Ruben, onde estou na aba dos amigos. Mas saí logo em seguida para ver o quarto que vou alugar. Saiu por 450 euros por mês, na casa de uma cantora. A relação custo-benefício é boa e a localização é central, na Place d’Italie. Já estou com as chaves, mas me mudo só na próxima terça-feira. De qualquer modo, a casa de Marta e Ruben continuará sendo minha base de trabalho.

Depois disso tudo, cheguei em casa cansadíssimo. Marta fez uma galinha d’Angola com um molho especial, acompanhado de cuscuz marroquino com ervilhas frescas no cominho. Um tinto. Jantamos os quatro: eu, ela, Ruben e Lorenzo. Na sexta-feira, todos eles viajam e vou ficar sozinho o fim de semana. É isso. Vou dormir. Bon nuit!

4 comentários:

  1. Parabéns pela casa nova!
    Uma questão vital: vais atravessar o córrego e manter fidelidade aos botecos conhecidos ou pretendes se transferir para outro, na margem esquerda?

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  2. Paulo Thiago!!! Bom ter notícias suas, ainda mais dessa cidade que amo de paixão!!! Me conta as boas: vc foi estudar por aí? Gostei do seu blog. Virei seguidora. rsrsrs bj

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  3. Salve, Jason! Meu boteco de coração, por questões subjetivas, é o Café de l'Industrie. E pela pesquisa, os do Marché d'Allligre, inclusive o conhecido Baron Rouge, que é uma espécie de Jobi. Mas estou aberto a conhecer outros... Abs.

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  4. Oi Rachel! Bem-vinda aqui! Fico em Paris mais alguns meses, depois volto para o tronco... Bjs.

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