domingo, 27 de fevereiro de 2011

E lá se foi o porquinho

Na biblioteca Mitterrand, domingo, depois de uma caminhada de uma hora e tanto para queimar o jantar da véspera

Paris, 27 fevereiro 2011. O Rio está em pleno carnaval e eu por aqui... Humm! Bem, acho que sempre queremos estar onde não estamos. Mas não posso reclamar. Apesar de sentir a falta das pessoas, umas poucas de forma especialmente aguda, estou gostando muito de descortinar Paris. É como se todas as viagens anteriores para cá, todos os eventos, maravilhosos e terríveis que vivi nesta cidade, fossem como uma preparação para este momento. Reconheci alguns sentimentos bem parisienses para mim. Uma espécie de melancolia cosmopolita, muito diferente da coisa bruta e maravilhosamente selvagem do Rio.

Fiz essa foto do casamento, na prefeitura. Acho que simboliza bem o momento

Hoje, a temperatura ajudou, embora frio (uns oito graus). O tempo abriu à tarde e fui conhecer a biblioteca Mitterrand com Marta e Ruben. É um bom lugar para estudar, ler, escrever e pesquisar. São quatro edifícios em formato de livros abertos. No centro, eles reproduziram uma floresta de verdade. Coisa de maluco. Ao lado, várias salas de cinema e tudo isso ao lado Rio Sena. Parece que no fim da primavera toda a orla fica cheia de barzinhos e a galera bebe uma cervejinha em frente ao rio. Como pesquisador, penso eu, tenho direito a usar as salas de leitura a qualquer hora. De qualquer forma, elas estão disponíveis em vários horários gratuitamente. Soraya também me enviou uma série de dicas de lugares para se concentrar nas leituras e vou experimentá-los essa semana.

O leitão chega à mesa, para estupefação geral (mesmo pra cá a coisa foi considerada um exagero)

O Thévenot enviou hoje um e-mail dando as boas-vindas a mim e à Laura Graziela, que vai ficar um ano em Paris como pesquisadora convidada da École. Nós ficamos de ir juntos à EHESS. É um alívio ter a Laura por aqui, pois posso compartilhar com ela os percalços da burocracia kafkiana a que estamos submetidos. Também falei com o professor Daniel Cefaï por telefone. Ele vai me dar umas dicas bibliográficas e concordou comigo que meu trabalho aqui deve se centrar em selecionar e aprofundar uma bibliografia sobre os processos de gentrification no cartier d’Aligre. Tô sentido que o Daniel será uma espécie de orientador informal nessa empreitada, o que será ótimo. Amanhã, quero ver os cursos de francês. Tinha pensado na Aliance, mas a Laura sugeriu outro curso. Vamos ver. Também recebi o código de minha conta no Le Crédit Lyonnais (LCL), acho que, agora, o dinheiro da Capes vai entrar sem problemas.

Os convivas já pelas tantas da madrugada

Ontem, Marta e Ruben se casaram. Foi um evento. Primeiro a oficialização na prefeitura, depois uma champanhe na casa de um casal de amigos dos dois, Thu e Pierre. Depois fomos caminhando da Nation à Crozatier para nos prepararmos para o jantar. Coisa séria. Demos um trato na casa, porque a Marta fez questão de compor uma mesa com os 15 convidados. Nada de fazer o prato e comer no colo. Ela queria todo mundo à mesa, e portanto tivemos que multiplicar o tamanho da mesa, o que fizemos improvisando umas tábuas. No fim, deu tudo certo. Aproveitei para treinar meu francês e fui comprar azeitonas do árabe, queijo na portuguesa, pão na boulangerie em frente ao Marché d’Aligre e água mineral especial para grávidas (sim, meus amigos, aqui tem disso..), para uma das convidadas, que espera gêmeos e está no quarto mês.

O pobre o leitão, devidamente devorado

Depois voltei com Ruben ao Marché para pegar o leitão, que havíamos encomendado. Nove quilos e um perfume, que me lembrou o joelho de porco que o Pimenta faz em Santa Teresa. Enquanto isso, na casa, Lorenzo preparava as saladas da entrada, depois de já ter feito as sobremesas, duas tortas sensacionais. Marta trabalhava nos dois tipos de purê (um de abóbora e outro de uma espécie de prima de segundo grau da batata doce, cujo nome me esqueci). Tudo pronto, as pessoas foram chegando. Abrimos mais champanhe e dá-lhe azeitonas (três tipos diferentes). Quando todos os 15 já haviam chegado, começamos o banquete.

Primeiro veio a salada (duas camadas distintas em círculos: uma de pepinos e tomates cortados em quadrados, uns fiapos de cebola , ao lado de três tipos de alface no vinagre balsâmico) com torrada de baguette e fois gras. Invenção do Lorenzo. Depois chegou o leitão à mesa. Inteiro, com as patas amarradas, cozido e depois assado mais de cinco horas. Servido com os dois purês. Passamos para um tinto comprado especialmente para o evento e pensando na harmonia com o prato principal. Foi uma noite bem divertida e de muita conversa. Foi ótimo para treinar o francês. Vários dos visitantes ficaram curiosos e interessados sobre meu objeto de estudo e parecem estar bastantes conscientes sobre o processo de gentrification ou bo botização em Paris. Foi uma boa noitada.

Hoje, caminhei muito para compensar os excessos de ontem.

4 comentários:

  1. Paulinho, que bela foto do casamento você fez. As mãos dadas estão bem no centro do círculo decorativo da mesa, círculo que simboliza a harmonia, não é isso? A farra foi cumprida à risca. Super banquete, mesa para todo mundo. E você está muito elegante, PT. Paris está te fazendo um bem danado, pelo visto. Estás afinal não só bonito por fora como identificando as nuances do que és capaz de sentir no inverno e no verão, aqui e acolá, ontem e hoje. Beleza pura, PT.

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  2. Ips! Todo mundo aqui gostou muito da foto. Teve outras legais também, mas essa acho que simboliza o momento. O Pierre fotografou com uma grande angular e a Marta me empresteou a máquina dela com uma lente 50mm. No fim, deu tudo certo. Agora, começa a semana e o trabalho propriamente dito. Gostei muito da biblioteca do Mitterrand. Acho que tem espaço lá para se concentrar horas a fio, estudando lendo. Ah! comprei o livro do Boltanski sobre o novo espírito do capitalismo, muito interessante!

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  3. Isso me faz lembrar do velho lema do Bar Lagoa: f***-se o porquinho!

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  4. A ideia do título foi essa, Carlos: "e foi-se o porquinho", numa pequena adaptação para não soar pesado...

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