quinta-feira, 10 de março de 2011

Aproveitando o silêncio

A sala da casa de Marta e Ruben, boa para ler e escrever quando está silenciosa

Paris, 10 março 2011. Ontem foi um dia sem muitas aventuras por aqui. Aproveitei o silêncio da casa para adiantar o relatório que terei que entregar à Capes, após o término da missão na França. Há muita coisa acontecendo que, se não forem registradas logo, se perdem na memória. Também avancei na leitura do livro do Boltanski, que, creio, poderá ser uma base boa para relacionar o problema da gentrification ao neoliberalismo que vem influindo no tipo de urbanismo das principais metrópoles do mundo. Ou seja, passei boa parte do dia em casa, concentrado. O tempo estava feio e chuvoso, o que ajudou minha decisão de ficar concentrado.

A casa de Marta e Ruben tem uma dinâmica coletiva. Tudo o que se faz aqui requer a participação de todos, sobretudo nos momentos da refeição. Sempre que possível se come junto, do café da manhã ao jantar. Também todos se levantam e se deitam mais ou menos na mesma hora. A rádio sintonizada na Fip é ligada tão logo todos estejam de pé e as músicas mais variadas tomam conta do ambiente. De modo que é estamos sempre conversando intensamente sobre as coisas.

Para mim que vivo sozinho há muitos anos, é um pouco estranho essa dinâmica. Às vezes sinto falta do silêncio para produzir. Percebo que estou acumulando uma série de informações importantes, não apenas sobre o projeto de pós-doutorado em si, mas em geral, e não tenho tempo de digeri-las, pois estou em constante comunicação com o pessoal da casa. Isso reforça a necessidade de encontrar logo um cantinho para mim. De qualquer maneira, Marta e Ruben vão para Barcelona na semana que vem por uns quatro dias e, se não tiver rolado um apê até lá, terei um tempinho para organizar melhor as coisas.

Por outro lado, é muito bom ter essa convivência. Conversamos muito sobre a vida, as coisas, os amores etc. E eles, sobretudo Ruben, estão sempre me incentivando a mergulhar no campo, por assim dizer. Meter as caras e mesmo com o francês ainda meio capenga, buscar as associações d’Aligre e coisa e tal. E ele está certo. Falando nisso, consegui um bom contato no bairro.

Mais um auto-retrato narcísico ou pura falta do que fazer

Bem, ontem, já no fim da tarde, dei uma longa caminhada pelo bairro. Dessa vez, por um lado que não conhecia ainda. Descobri a continuação do chamado caminho verde, uma pracinha no meio de um bosque, excelente lugar para ler, quando estiver um pouco mais quente. Depois voltei para casa e jantamos juntos. O menu foi um filé de porco com mel, gengibre, canela e curry, acompanhado por legumes. De entrada uma sopa de petit pois com hortelã. E a calça continua caindo.

Hoje, tenho que pegar um documento na casa de Colette Pétonnet, seguir para a Alliance e me encontrar com Vivi Fernandes, que chegou ontem do Rio. Vamos tomar um copo de vinho em algum lugar e jogar conversa fora.

6 comentários:

  1. Paulo Thiago, você está bonito. Un véritable danger à la cohésion sociale cet homme charmant seul dans les rues! Talvez seja até a dinâmica da casa o efervescente no seu copo de idéias. A vida do celibatário é estóica mesmo. Falo também por experiência própria, tu sais. Mas você tá um gato!

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  2. Paulo,

    Mandei um e-mail para a Revista Piauí recomendando seu blog para a seção Diário, que todo mês trás os relatos de alguém que vivenciou uma história interessate.

    Espero que eles considerem minha sugestão.

    Abraços.

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  3. Ips, são seus olhos! Mas a verdade é que me sinto no limbo, no bom e no mau sentidos... isso dá uma expressão bizarra à nossa cara!

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  4. Querido Norton, sua gentileza é insuperável. Obrigado, camarada!

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  5. Paulo Thiago, acho que esse limbo, visto à luz de meus olhos, se chama "descondicionamento". Aí a gente fica mais bonito, menos mais do mesmo, entende?

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  6. É exatamente isso: menos mais do mesmo!

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