domingo, 6 de março de 2011

Carnaval à la française

Um auto-retrato no banheiro

Paris, 5 março 2011. Hoje foi um dia de estudo. Nem pus os pés na rua. Mergulhei num artigo sobre o processo de gentrification de Paris (Politiques urbaines et gentrificarion, une analyse critique à partir du cas de Paris), comparativamente a outras metrópoles. O texto é da dupla Anne Clerval e Antoine Fleury, geógrafos. Muito interessante mesmo. A Nathalie Faure (cientista política e tradutora), amiga de Marta, está arranjando um bate-papo com o Antoine na semana que vem. E, assim, a pesquisa começa a deslanchar. O processo de gentrification de Paris é singularíssimo se comparado ao Rio, e mesmo a Londres e metrópoles americanas, como Filadelfia e Nova York. Depois, avancei na leitura do livro do Boltanski, sobre o novo espírito do capitalismo. Leitura pesada em francês, mas já está tudo fichado.

Outra do banheiro ou santuário, não sei bem...

Hoje bateu uma saudade do Rio. Fiquei imaginando todo mundo caindo na folia. Queria estar por aí. Bem, mas amanhã teremos um carnaval aqui e que também tem a ver com minha etnografia sobre o Marché d’Aligre. É que o Conselho de Paris aprovou o projeto do governo Sarko de instalação de mil câmeras de vigilância na cidade e boa parte da população é contra, pois considera uma invasão de privacidade e usurpação de poder por parte das autoridades, ferindo o princípio de cidadania e civilização. Numa república jacobina, isso é coisa séria.

Então várias associações de moradores, ateliês comunitários, ONGs, entre outras entidades, organizaram para amanhã uma marcha carnavalesca, em que todos devem ir fantasiados ou mascarados, para protestar. Cada bairro marca um ponto de encontro e vai engrossando a marcha, cujo ponto final é em Belleville, outro cartier que vive um processo acentuado de gentrification. A idéia é ir e acompanhar todo o processo, fotografar, entrevistar e o que mais der para fazer. No próximo domingo, dia 13, vão fazer outra passeata e lá pretendo estar. Cada um tem o carnaval que pode...

O cinzeiro... até me deu vontade de voltar a fumar...

Na semana que vem começam minhas aulas na Alliance Française, também irei à dar entrada no cartão da biblioteca. Na quinta, passo na casa da Collette Petonet, para pegar um documento para enviar ao EHESSLeMetro, no Brasil. Também tenho que achar logo um apê para me instalar. Ter meu cantinho é fundamental para me concentrar nas leituras.

A banheira e chuveiro não ficam no banheiro, mas no quarto...

Falando em apê, hoje, como fiquei em casa lendo, nos intervalos aproveitei para fotografar alguns detalhes da casa de Marta e Ruben. Publico algumas fotos neste post. Beijo em todos.

5 comentários:

  1. Paulinho, para meu estarrecimento, abro aqui e a primeira foto é o seu auto-retrato nessa superfície convexa, e eu acabo de chegar da exposição extraordinária do Escher. Entende? Sinto sua falta, amigo. E não é coisa da distância não, é vontade de ter você à mão para a hora que dá vontade de trocar dois dedos de boa prosa. Depois de ver Escher, cabe bem você por perto. Bela casa, a da Marta. A modernidade reduziu as dimensões da alcova, mas aí os traços da intimidade estão sendo preservados, sem obstáculos. Carnaval aqui começa com chuva e um monte de bêbados chatos e emperucados azucrinando pelas calçadas. No CCBB fui até vítima de uma entrevista para a Record. Pergunta fatídica na livraria, sob a luz do refletor: "não gosta de folia?". Disse que sim. A repórter não entendeu nada, e ficou sorrindo, microfone na mão...

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  2. Ips! Tentei ver essa exposição antes de sair do Rio, mas a loucura dos últimos dias não permitiu e nem tinha paz de espírito para encarar os labirintos do Escher. Também queria muito ter vc aqui perto para comentar tudo o que estou vendo, sentindo etc. Ontem, pensei muito em conversas que tivemos a respeito desse projeto, no sentido amplo. Hoje fui ao mercado e à feira d'Aligre e fiz muitas fotos. Agora vou almoçar e depois ir ao carnaval protesto. À noite me encontro, se tudo der certo, com Fabinho e Zé Colaço, que estão em Paris para o fim de semana. Vamos tomar uma cerveja no Café d'Aligre!

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  3. A cerveja vai ser no Café de L'Industrie e não no Café d'Aligre... Beijo!

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  4. O banheiro antes ficava na cozinha...Bom carnaval-protesto amanhã!

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  5. Obrigado, Lu. É mesmo, a casa da Marta desafia a lógica dos cômodos... tudo está num lugar distinto do convencional...

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