terça-feira, 22 de março de 2011

De mudança


Paris, 22 março 2011. Hoje me mudo para une chambre no apartamento de uma cantora brasileira que vive em Paris há três séculos. A localização é ótima, em frente à Place d’Italie. Mas não há muita privacidade, pois o banheiro e a cozinha são compartilhados. Alguns amigos aqui consideraram o preço alto para um quarto: 450 euros por mês. Sobretudo porque fica num HLM, um condomínio social do tipo BNH, com aluguel social. Consegui para abril um studio num banlieue a 10 minutos de Paris. Cem euros mais barato, e totalmente independente. Enfim, vamos ver.

Como a casa de Marta e Ruben fica no mesmo bairro do Marché d’Aligre, continuarei usando o apartamento deles como base para meu trabalho de campo. Posso vir aqui durante o dia e trabalhar, estudar e escrever. Ontem, comprei uma mochila nova (a velha estava em petição de miséria a ponto de todo mundo notar), com um compartimento para o laptop, de modo que ficará mais fácil circular para lá e para cá.

Sinto que agora, depois de um mês de ambientação, começo a trabalhar de forma mais focada e sistemática no projeto de pós-doc. Hoje, por exemplo, vou fotografar um jardim coletivo que a Commune Libre d’Aligre fez em um beco abandonado. É um trabalho coletivo compartilhado com os moradores do bairro. A Commue é cheia de atividades com o objetivo de integrar as pessoas que vivem aqui. Há cursos de literatura, cinema comunitário e até corte e costura. O café solidário também é uma atividade coletiva, em que as pessoas cozinham suas especialidades para os presentes.



Também me matriculei por mais duas semanas no curso da Alliance. No fim das contas está sendo útil apesar do preço. A professora é ótima. Uma jovem parisiense típica, que adora vinhos e queijos e é bem antenada quanto às coisas da cidade. Ela conhece bem o Marché d’Aligre, onde vai com o marido todos os domingos. Mas ainda não nos esbarramos por lá. Seria legal encontrá-la por lá.

Ontem, comi num bistrot perto de Saint-Michel, depois da aula d’Alliance. Minha primeira decepção, o que reforça a noção de que as áreas turísticas de Paris (que são praticamente toda a cidade) não valem a pena. Pedi um meno de 18 euros, com mussarela de búfala, tomate e manjericão de entrada. Mas o prato principal, um filé ao molho de camembert com fritas, servido numa prancha de madeira, demorou muito e veio frio. Em casa, onde estou sozinho esses dias, fiz um peito de frango ao curry com ervilhas e uma baguette para aproveitar o molho. Bem melhor.

Bem, é isso. Coloco mais algumas fotos do Marché d’Aligre e seu entorno. A bientôt!

2 comentários:

  1. Confesso que quando vi a velha e encardida mochila em cima da mesa, pouco antes do teu vôo, pensei em apontar a condição miserável da dita cuja. Pero, como a ambiência "à l'aise" do Rio favorece a circulação despudorada de mochilas do tipo, me contive e pensei: "Paris valerá mais do que mil palavras..."

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  2. Pois é, o pessoal do jornal já vinha tentando me dissuadir de manter esse souvenir de tantas viagens e entrar na modernidade das mochilas adaptadas a carregar laptops, iPads e afins... mas aqui, na terra do iluminismo jacobino, foram insuportáveis os olhares entre curiosos e de desaprovação...

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