Entrando na cultura local pela cozinha

É muito comum por aqui que os caminhões e vans sejam grafitados

Paris, 2 março 2011. Hoje amanheci pensando no jantar. E esse talvez seja o sinal mais conspícuo de que estou me adaptando rapidamente a esta cultura jacobina. Os franceses estão o tempo todo planejando suas refeições: primeiro que tipo de prato e, depois, o que vai harmonizar com isso, em qual mercado serão comprados os elementos etc. E hoje acordei pensando que poderíamos comer uma massa com legumes, talvez até mesmo uma pizza, que, aqui, é feita em casa (a massa). Amanheceu ensolarado, mas a temperatura está menos 1 grau, com previsão de máxima de 8 graus à tarde. Uma massa cairá bem.

Ontem, acabou sendo um dia cheio. Acabei não conseguindo me matricular na Aliança, mas o jantar com Laura e Thévenot foi ótimo. Ele é muito simpático e nem parece o fodão da sociologia francesa. Conversamos sobre seu trabalho, uma espécie de sociologia da moral, mediante as justificações a que os atores recorrem nas interações sociais. E, agora, ele está comparando esses procedimentos microssiológicos entre França, Estados Unidos e Rússia. No próximo ano, ele vai tirar todo o período sabático para avançar nesse projeto. Mas também falamos da França, da minha pesquisa no Marché d'Aligre, além de alguns toques sobre a administração da bolsa no que concerne à École. Tenho que obter um cartão para utilizar sua biblioteca, que é sensacional e onde, provavelmente, passarei boa parte do meu tempo.

Tem umas lojinhas bem interessantes também

O encontro se deu num pequenino bistrot, chamado Le Pied de Fouet, na rue Babylone, no 7eme (região chic de Paris). Muito aconchegante, apertadinho, com poucas mesas e um mezanino, onde nos instalamos (pena que estava sem câmera). Sua cozinha é mínima, mas tudo é produzido ali. Comi uma salada verde de entrada e uma carne assada com um molho extremamente saboroso e cenouras em rodelas. No fim, o dono do bistrot ofereceu uma bebida a base de maçã verde, superperfumada, doce e saborosa, mas um perigo (álcool 40 graus). Me lembrou o coquinho do Bar do Serafim.

Segundo o garçom, eles trazem bons vinhos do interior, de uma região (Sudoeste) que não era conhecida por bons vinhos, o que às vezes provoca cara feia em alguns clientes. Thévenot explicou que, após uma seca que devastou a região, há uns 10 ou 15 anos, tudo foi refeito e a área passou a produzir bons vinhos (Marta e Ruben já me haviam falado sobre isso). Bebemos um tinto leve da região do rio Lot, em me lembrei que, em 2002, passei por essa região a caminho de Perpignam. A área é uma espécie de Friburgo, com montanhas e vales, onde o Lot serpenteia. Área de bons queijos também. Antes do jantar, fiz uma caminhada de duas horas, andei praticamente todo o boulevard Raspeil. Passei pela Escola Especial de Arquitetura e acabei comprando dois livrinhos num sebo. O bairro do restaurante é cheio de ministérios e também de centros universitários, o que dá uma mistura de público interessante. Aquela efervescência de estudantes cercando professores na rua ou nos cafés e falando de política, normalmente criticando o Sarko.

Também aproveitei para me ambientar no metrô. É extremamente fácil, até para um desorientado como eu. Comprei uma carteirinha e um passe de um mês, que valerá para todo o mês de março (ônibus e RER incluídos), quantas vezes quiser. Ganhei um mapinha esperto e um livrinho de ruas que cabe no bolso: Paris Pratique Par Arrondissement, presentes de Marta. Daqui a pouco vou à Aliança e depois passar no mercado. Quero comprar os ingredientes para fazer curry. Já tenho a lista. Vou ver se faço um franguinho à indiana para meus anfitriões.

Olhando a janela do quarto/escritório onde estou dormindo

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É isso, vou estudar um pouco para dar hora para ligar para o Brasil e depois me ocupar do jantar. A bientôt!