quinta-feira, 3 de março de 2011

Poulet au curry

Os livrinhos, no total uns 40 euros (pensei que livro aqui fosse mais barato...)

Paris, 3 março 2011. Acabo de tomar café com Ruben e Marta (no Brasil são 5h30). Lá fora, uns dois graus. O casal se prepara para dar entrada na papelada de cidadania francesa para ela. Uma trabalheira e tanta na Prefecture de Police, onde também terei que fazer minha via crucis para obter a carte de séjour (o visto de longa duração para pesquisador). Papéis, papéis e papéis. Mas antes de partir, Ruben já está picotando coentro e cheiro verde, para o almoço de logo mais. Amanhã será minha vez de fazer uma incursão na cozinha. Como disse antes, dá medo, pois aqui tudo isso é levado muito à sério. É como jogar pelada no Rio. Experimente perder um gol feito pra ver o que acontece...

Vou preparar um frango ao curry. Já tenho boa parte dos ingredientes: coentro, cúrcuma, cominho, cardamomo, gengibre, canela, feno grego, mostarda e pimentas do reino brancas, vermelhas e pretas. Tem que torrar essas sementes e grãos para triturar e transformar tudo num pozinho de curry. O frango tem que ser certificado — label rouge —, para garantir que o bichinho correu solto, brincou, namorou e teve uma vida minimamente ativa, antes de virar comida. Aliás, aqui na casa de Marta é tudo orgânico e bio.

Cartaz no ponto de ônibus perto de casa

O negócio é refogar o frango com um pouco de óleo e manteiga, juntar o curry, sal e pimenta. Depois que o frango está dourado, reserva o bicho e acrescenta um caldo quente tipo Knorr (mas orgânico, evidentemente) de galinha ao resto da frigideira e deixa reduzir. Depois acrescenta leite de coco e joga sobre o frango. Servir com arroz de açafrão e um tinto robusto ou branco seco. Et voilá. Vamos ver se vai agradar.

Para que não pensem que o assunto aqui é só comida, ontem fui a uma livraria sensacional em Saint Michel (Gibert Jeune), especializada em ciências sociais e humanas, e investi uns eurinhos em livros. Descolei uma versão de bolso do livro do Joseph & Grafmeyer com os textos básicos da Escola de Chicago e da ecologia humana. Comprei para Soraya um livrinho sobre squats, de Florence Bouillon, cujo título pergunta se as ocupações são um problema social ou uma solução: Le squat: problème social ou lieu d’émancipation?.

Também comprei um livro que analisa a visão do Corbusier e da arquitetura moderna criticamente a partir do ponto antropológico, de Françoise Choay: Pour une anthropologie de l’espace. E, por fim, de Isabelle Coutant, Politiques du squat: Scènes de la vie d’um quartier populaire. Todos trabalhos relacionados com minha pesquisa. Agora vou dar um tempo, pois na biblioteca da École terei acesso a livros e xerox gratuitamente.

Subindo as escadas da biblioteca Mitterrand. Um bom point em Paris

Ontem, no metrô, entrou uma jovem de uns 20 anos, com um cachorrinho, gritando histericamente. Dizia que estava deprimida e não sei mais o quê (falava extremamente alto, rápido e chorosa). Pedia desculpas por importunar a viagem dos passageiros, mas estava precisando de estímulo e, sobretudo, dinheiro. Me lembrei dos baleiros de ônibus do Rio, que me parecem bem mais legítimos em seu affair de pedir dinheiro a passageiros. De qualquer modo, a menina estava apelando à piedade dos outros com um argumento psicológico! Me pareceu bizarro isso. Fiz uma cara de estátua egípcia: a la égyptienne, como diria Gilberto Scofield se fosse francês.

Bem, é isso por enquanto. Ao pessoal que quiser comentar, tirei todos os filtros. Agora, qualquer pessoa pode escrever o que quiser sem problema. Beijo em todos.

6 comentários:

  1. Paulo, vamos ver se consigo comentar sem filtros... rsrs
    Gostei do seu poulet au curry! Se der tempo, dá uma chegada lá na Passage Brady no 10eme e compra um mango chutney pra acompanhar. Claro que tem em qualquer Monoprix em Paris, mas lá é uma galeria com vários restaurantes indianos e tem um mercadinho só de produtos da Índia e arredores. Vale a pena dar uma chegada. Eu sempre ia lá almoçar.
    En tout cas, bon appétit pour demain!
    Bjs, Cris

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  2. Oi Cris, uma vez almocei nessa passagem. Tinha muitos restaurantes indianos, barbeiros e coisa e tal. Boa idéia! Vou comprar os ingredientes lá. Beijo!

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  3. Paulinho, estava querendo esse livrinho mesmo ! que amor... e indo na Gibert Joseph, procure por um livro recentemente lançado: "histoire et ethnographie d'une cité de Rio"... tem lá. En outre, bela luz sobre o fundo cinza, explodindo sur ta visage, hein, meu amigo? pegue logo tua carteirinha na biblio porque... ai ai.

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  4. Ips! Onde fica a Gibert Joseph? Preciso ler urgentemente essa etnografia, nem que seja em francês! Dizem que a antropóloga é, além de tudo, uma gata! Se estiver precisando de mais algum livro, me avise! Ainda cabe na mala...

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  5. ali pelos arredores de Saint Michel ficam todas as Gibert Joseph. Gibert Jeune é somente uma delas. A grandona e boa mesmo é um pouco mais acima. Lá você encontra na parte de ethnologie essa obra prima da etnografia mundial. A gata, quer dizer, a antropóloga, além de tudo é gente fina... :)

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  6. Vou correndo lá! Já soube que os Giberts são irmãos e brigaram feio, separando as livrarias: uma é a Jeune e a outra, Joseph... esses franceses! Beijo.

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